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Glossário de ‘bolsonarês’ para entender o novo governo

Do 'marxismo cultural' ao 'globalismo', conheça o que o alto escalão da administração federal quer dizer com as expressões que chegaram a Brasília

Por Da Redação
Atualizado em 6 jan 2019, 21h24 - Publicado em 4 jan 2019, 11h22
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  • Em suas primeiras palavras dirigidas ao país no parlatório do Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro prometeu “libertar” o Brasil do que considera socialismo e do que chamou de “politicamente correto”. No dia seguinte, seus ministros reforçaram a retórica. Entre os exemplos, estão os titulares das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, que tomaram posse em pé de guerra contra o “globalismo” e o “marxismo cultural”, respectivamente.

    São expressões agora em voga nos altos escalões do governo federal, marcando a mudança do léxico político proporcionada pela chegada ao poder de uma direita que faz questão de explicitar seu conservadorismo e reedita no ano de 2019 o clima de vigilância anticomunista dos tempos da Guerra Fria.

    Conceitos que pareciam soterrados pelos escombros do Muro de Berlim, ou antes ficavam restritos às discussões acadêmicas e virtuais entre pessoas que seguem essa linha de pensamento, chegaram à Esplanada e serão inseridas com todo vigor no dia a dia do brasileiro.

    Mas o que, afinal, significam cada uma dessas expressões? O que Jair Bolsonaro e aliados querem dizer quando falam de “ideologia de gênero” e “excludente de ilicitude”? Abaixo, VEJA lista um glossário com as principais expressões adotadas na campanha e nos primeiros dias do novo governo, de acordo com a visão que o presidente e seus auxiliares têm de mundo.


    Globalismo

    Processo de enfraquecimento das identidades nacionais e da soberania política dos diversos países ao redor do mundo, em detrimento de uma ordem global. Neste processo, os valores morais e culturais de cada nação são gradualmente substituídos por um conjunto de ideias internacionais e comuns a todos, que desconsidera as características históricas e regionais de cada povo. Equivale à versão de direita da palavra “imperialismo”, tão comum nos círculos de esquerda.

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    Ernesto Araújo
    O novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em discurso onde criticou o chamado “globalismo” (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

    Marxismo cultural

    A influência que ativistas políticos e teóricos de esquerda exercem em diversas áreas da produção cultural, como música, teatro, cinema, mídia e a própria educação, a fim de disseminar conceitos políticos comunistas e socialistas. Para o presidente, representa o enfraquecimento de valores morais nacionais e a promoção da ideologia de gênero.


    Doutrinação

    Na lógica bolsonarista, é a imposição, por parte de professores, de valores morais e políticos vinculados à esquerda aos estudantes.


    Viés ideológico

    Além de um mecanismo de “doutrinação”, é a opção de abordagem de qualquer questão a partir apenas da ótica de esquerda.

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    Socialismo

    Mesmo que este sistema político jamais tenha sido efetivamente implementado no Brasil, é a identificação de que governos anteriores implementaram políticas de esquerda e compactuaram com as práticas do marxismo cultural.


    Populismo

    Na visão política do presidente, uma prática de governos de esquerda de conceder benefícios de assistência social em troca de apoio político.


    Foro de São Paulo

    Entidade internacional formada por partidos políticos de 26 países da América Latina, fundada em 1990 com a intenção de promover os ideais de esquerda na região. Para Bolsonaro, é a força por trás dos alegados mecanismos de dominação comunista no continente.

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    Tradição judaico-cristã

    É o conjunto de crenças e valores morais comuns aos países do Ocidente.


    Escola Sem Partido

    É um movimento e um projeto de lei homônimos que pretendem coibir a discussão de questões morais, políticas e sexuais em sala de aula, como forma de evitar a suposta doutrinação dos estudantes por professores. Em discursos, a expressão também é utilizada para definir de forma genérica o sistema educacional onde não estejam presentes, em especial, as ideias políticas de esquerda e a ideologia de gênero.


    Ideologia de gênero

    Apelido dado à teoria que estabelece sexo biológico e gênero como sendo coisas independentes, permitindo que um indivíduo biologicamente homem possa ter uma expressão de gênero feminina, se identificando socialmente como mulher, por exemplo. Também está relacionada ao papel social de homens e mulheres e contra a discussão em sala de aula sobre a desigualdade de oportunidades entre gêneros na sociedade.

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    Kit gay

    Material didático do programa Escola Sem Homofobia, promovido pelo governo federal em 2011, produzido com a finalidade de estimular em sala de aula o respeito às pessoas LGBT — e que jamais chegou às escolas. Segundo Bolsonaro, o material acaba por sexualizar precocemente os estudantes e promover a homossexualidade e a bissexualidade.


    Cidadão de bem

    Indivíduo que não comete crimes e que, portanto, tem direito a gozar plenamente de todos os seus direitos sociais básicos – em especial, ter entre essas garantias o direito à posse e ao porte de arma para defesa pessoal. É sinônimo de “humano direito”, em uma delimitação muito própria sobre para quem devem valer os Direitos Humanos.


    Humanos direitos

    Uma variante do “cidadão de bem”, define para quem devem ser garantidos os direitos humanos básicos.


    Excludente de ilicitude

    É a garantia de que policiais e demais agentes do estado que executem criminosos em serviço e em sua defesa pessoal não sejam punidos, mesmo que porventura venham a ser investigados. Embora já exista no artigo 23 do Código Penal, Bolsonaro quer ampliá-la

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    Terrorismo

    Além dos significados comuns, essa expressão também é usada para definir as invasões a propriedades privadas organizadas por movimentos sociais, que, acredita o governo, devem ser tipificadas desta forma.


    Posto Ipiranga

    Referência a um comercial da rede de combustíveis, a expressão geralmente utilizada pelo presidente para se referir ao ministro da Economia, Paulo Guedes, profissional a ser acionado pelo presidente para aconselhá-lo sobre as questões da área econômica.

    Paulo Guedes
    Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro (Carl de Souza/AFP)

    Talkei

    Para o fim de todos os assuntos, o presidente eleito complementa as ideias com “talkei”. É uma expressão para certificar que a pessoa com quem ele fala está entendendo e, também, para ele conseguir completar a linha de raciocínio sem conseguir se perder, talkei?


    Fake news

    Termo em inglês que significa “notícias falsas”. Na retórica do presidente, foi expandido para reportagens com as quais ele discorda, independentemente da sua veracidade.


    Politicamente correto

    É a defesa, criticada pelo presidente, de que expressões, brincadeiras e outras manifestações jocosas dirigidas a setores vulneráveis da sociedade e minorias devem ser coibidas. Para o presidente, trata-se de vitimismo e de restrição à liberdade de expressão.


    Vitimismo e mimimi

    A crença de que militantes de grupos minoritários buscam publicizar qualquer manifestação contrária aos seus interesses como forma de pressionar a classe política e a sociedade civil a aprovarem projetos de lei que lhes garantam o que considera privilégios.

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