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Festa de petista morto tinha bolsonaristas entre convidados e tolerância

Amigos chegaram a achar que ofensas contra o PT eram piada; agente penitenciário deixou mulher e bebê em casa e voltou para matar aniversariante

Por Tulio Kruse Atualizado em 10 jul 2022, 17h26 - Publicado em 10 jul 2022, 15h39
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  • A festa de aniversário do guarda municipal Marcelo Arruda, morto em Foz do Iguaçu durante uma troca de tiros com motivação política, tinha entre seus convidados colegas da área de segurança apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Eles foram à celebração com temática do PT em clima de tolerância e faziam piadas com as próprias divergências. Esse foi o motivo para que os convidados tenham achado, em um primeiro momento, que o agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho fosse um conhecido do aniversariante. Guaranho havia parado o carro na frente do local da festa e gritava ofensas contra petistas, o que fez com que amigos do guarda municipal o avisassem de que algum amigo bolsonarista havia chegado para a festa — para, logo em seguida, perceberem que se tratava de um desconhecido que estava ameaçando de morte os presentes.

    Enquanto Arruda ia até a entrada do local, Guaranho manobrou o carro para que a janela do motorista ficasse de frente para a porta. Segundo um dos presentes na festa, o guarda municipal pediu que Guaranho fosse embora no momento em que percebeu que ele não era um convidado. “Vai embora, não te conheço, isso aqui é uma festa de família”, teria dito Arruda, segundo o amigo André Alliana, ex-secretário de Meio Ambiente da cidade.

    O agente penitenciário teria então sacado a arma e mostrado a Arruda. “Olha o que eu tenho pra você, vocês merecem morrer”, disse Guaranho, segundo o relato da testemunha. No momento em que o agente penitenciário mostrou a arma, Arruda atirou um copo de chope contra o carro e se esquivou, para se proteger. A esposa de Guaranho, no banco de trás do carro, teria começado a gritar com ele e insistir para que fossem embora. Ela estava com um bebê no carro. O motorista arrancou, mas avisou que voltaria.

    Ao voltar para a festa e contar o que tinha ocorrido, o guarda municipal decidiu ir até o seu carro e pegar uma arma para se defender caso o estranho voltasse. Amigos tentaram dissuadi-lo, mas ele insistiu que era uma medida de segurança. Quando Guaranho retornou, ainda segundo o relato, ele e o aniversariante ficaram alguns segundos apontando as armas um para o outro, até que o bolsonarista atirou, acertando a perna do petista e a parede. Com Arruda no chão, o agente penitenciário se aproximou, correndo, e atirou na direção do peito do guarda municipal. Caído, o guarda municipal atirou várias vezes em direção ao agressor. Um amigo de Guaranho teria chegado ao local logo em seguida, avisado pela mulher do agente penitenciário de que ele iria invadir a festa. Guaranho havia deixado a esposa e o bebê em casa.

    Familiares e amigos ainda não sabem por que o agente penitenciário estava passando no local que, segundo Alliana, fica em uma rua isolada e sem saída. Ele também diz que não havia sinal na entrada de que se tratava de uma festa com temática do PT — mais de cem metros separam a porta e o salão onde ocorria o evento. Arruda deixa quatro filhos. O mais novo tinha apenas um mês de idade.

    “Nunca na minha vida vi ele sacar a arma para ninguém”, disse Aliana sobre o amigo Marcelo Arruda. “Ele não sofria ameaças, não tinha problemas com ninguém.”

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