Investigações da Polícia Federal demonstraram que a Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomercio-RJ) pagou 180 milhões de reais em honorários advocatícios sem comprovação clara. As operações foram determinadas pelo seu presidente, Orlando Diniz, preso nesta sexta-feira pela Operação Jabuti, nova fase do braço da Lava Jato no Rio.
Destes, cerca de 20 milhões de reais teriam ido apenas para o escritório que tinha como sócia a advogada Adriana Ancelmo, esposa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB). A existência de pagamentos suspeitos a Adriana foi adiantada a VEJA em dezembro pelo administrador Luiz Gastão, que assumiu interinamente o comando do Sesc e do Senac no Rio depois do afastamento de Diniz do Sistema S, determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O presidente da Fecomércio ainda teria fornecido outras vantagens a Cabral. Segundo a PF, foram encontrados na Fecomércio registro de funcionários fantasmas, que constavam na folha de pagamento da entidade, mas prestavam serviços pessoais ao ex-governador. Internamente, eles eram apelidados na entidade como “jabutis” – o que explica o nome da operação desta sexta.
Outros “jabutis” seriam familiares de diretores da Fecomércio, também remunerados sem trabalhar. Além de Diniz, preso preventivamente (por tempo indeterminado), a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão temporária com outras três pessoas ligadas à entidade. Nesta manhã, cerca de sessenta policiais cumprem dez mandados de busca e apreensão.
Um caso de vantagem questionável, oferecida pela gestão de Orlando Diniz na entidade, a Sérgio Cabral que teve complicação recente foi a da chef de cozinha Ana Rita Menegaz, que servia ao governo e à Adriana Ancelmo nos palácios estaduais. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em 2014 e, naquele momento, Diniz alegou se tratar de uma publicidade positiva para o Senac fornecer a responsável pelo cardápio da elite política do estado.
No final de 2017, Ana Rita processou o Senac, cobrando uma indenização de 2,7 milhões de reais e colocando o Estado do Rio de Janeiro como responsável por sua situação trabalhista, que, alega, era de jornadas extenuantes, para atender aos compromissos públicos dos governadores cariocas (ela permaneceu por mais dois anos após a posse de Luiz Fernando Pezão, também do MDB), incluindo de recepções e cafés matinais até festas noturnas.
Se a Justiça do Trabalho reconhecer o pleito da cozinheira, os cofres públicos do Rio podem ser obrigados a pagar parte ou o total da multa para a ex-funcionária do Senac. A pedido do MPF, Ana Rita Menegaz será intimada a depor para explicar a sua situação.
Outro lado
Em nota, a Fecomércio do Rio afirmou que “as acusações que recaem sobre Orlando Diniz são infundadas” e que os fatos serão esclarecidos. O órgão criticou a Confederação Nacional, que, alega, “tem interferindo indevidamente na entidade do Rio de Janeiro com a única finalidade de se manter no poder.”
Leia na íntegra o posicionamento da Fecomércio-RJ:
Nota à Imprensa
As acusações que recaem sobre Orlando Diniz são infundadas. Ele vai esclarecer todos os pontos levantados pela Policia Federal e pelo MPF e o devido processo legal irá provar sua inocência.
O comando nacional da Confederação Nacional do Comércio (CNC), dirigida desde 1980 pela mesma pessoa, tem interferindo indevidamente na entidade do Rio de Janeiro com a única finalidade de se manter no poder.
As inverdades levantadas contra o grupo legitimamente eleito para dirigir a Fecomércio e o Sesc têm resultado na destruição de projetos importantes para a sociedade fluminense (como o investimento no esporte), no enfraquecimento do comércio no Estado e na desprofissionalização da Fecomércio, hoje controlada por interventores indicados politicamente.
Orlando Diniz sempre colaborou com as investigações e esteve à disposição para prestar os devidos esclarecimentos às autoridades.