Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Faltava intriga. Não falta mais

No primeiro mês, a relação entre presidente e vice já rende teorias conspiratórias — e, curiosamente, as suspeitas são alimentadas pela família Bolsonaro

Por Nonato Viegas
Atualizado em 4 jun 2024, 16h00 - Publicado em 8 fev 2019, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • As desconfianças começaram ainda durante a campanha, quando o general Hamilton Mourão, então candidato a vice-presidente, sugeriu participar dos debates no lugar de Jair Bolsonaro, o cabeça da chapa, que se recuperava do atentado que sofrera. Suspeitando que Mourão tentava conquistar uma posição de protagonismo no cenário nacional, os filhos de Bolsonaro derrubaram a ideia no ato. Na montagem do governo, a relação entre o vice e a família Bolsonaro se esgarçou um pouco mais. Mourão queria assumir a função de coordenador da máquina administrativa, mas também acabou escanteado. A família presidencial fez questão de deixar claro que o seu papel era ser um vice com um perfil, digamos, decorativo. Ao fim do primeiro mês de governo, ficou claro que Mourão não se encaixa no papel de mero coadjuvante — e, por isso, já virou alvo preferencial de uma parte da artilharia bolsonarista.

    Na história democrática brasileira, não são incomuns relações atritadas entre presidente e vice. Aconteceu com Fernando Collor e Itamar Franco, com Dilma Rousseff e Michel Temer. E, sempre, sem exceção, o antagonismo resulta em mirabolantes teorias conspiratórias — a tese mais amalucada da hora sugere que Mourão está acenando a setores estratégicos para tomar o poder das mãos de Bolsonaro. Eis o que disse o ex-­astrólogo e filósofo Olavo de Carvalho, guru bolsonarista: “Estará o Mourão planejando livrar-se do Bolsonaro e usar a eleição dele como mera camuflagem para dar ares de legalidade eleitoral a um golpe militar?”.

    Hamilton Mourão
    ALVO ALIADO – O vice Hamilton Mourão: bolsonaristas vislumbram “camuflagem” que esconde golpismo (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

    A evidência da tramoia seria o fato de que Mourão tem defendido, em público, posições diferentes das do presidente. São mais moderadas e, assim, servem de contraponto ao radicalismo de Bolsonaro. Em que pese rusgas entre presidente e vice serem comuns, há um dado inédito na história de agora: a própria primeira-família da República alimenta a suspeita de conspiração.

    Carlos Bolsonaro, o incansável Zero Dois, já chegou a escrever numa rede social que a morte de seu pai “não interessa somente aos inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto”. Mourão era o sujeito oculto da mensagem. Recentemente, o presidente desistiu de tirar uma licença médica para se recuperar da cirurgia de retirada da bolsa de colostomia. Para não passar a caneta presidencial a Mourão, preferiu improvisar um gabinete no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

    Continua após a publicidade

    Filiado ao nanico PRTB, Mourão não era a primeira, nem a segunda, nem mesmo a terceira opção de Bolsonaro para vice, mas acabou escolhido porque o então candidato avaliou que ele jamais conspiraria para assumir o poder. Também pesou a favor do general o fato de ter criticado o governo Dilma, quando estava ainda na ativa, e de defender o notório torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo dos Bolsonaro.

    No exercício do governo, no entanto, presidente e vice foram se afastando. Enquanto Bolsonaro mantém seus discursos de campanha mais corrosivos, Mourão abre canais de comunicação com setores importantes da sociedade, inclusive o empresariado. Logo depois de eleito, Bolsonaro atacou a China, acusando o país asiático de querer comprar o Brasil. Mourão recebeu, em audiência oficial, uma delegação de autoridades chinesas. Não perdeu a pose nem quando veio a público a promoção fantástica, extraordinária, sensacional que seu filho recebeu no Banco do Brasil. Mourão também tem feito questão de demonstrar mais apreço à democracia do que Bolsonaro. Se o presidente não perde uma oportunidade de espicaçar a imprensa, o vice defende a liberdade de informar e mantém relação amistosa com jornalistas. Se Bolsonaro e sua prole festejam a decisão do deputado Jean Wyllys, ativista da causa LGBT no Congresso, de desistir do mandato e deixar o Brasil, o vice adota uma postura mais presidencial e trata as ameaças ao deputado como um crime contra a democracia.

    Publicado em VEJA de 13 de fevereiro de 2019, edição nº 2621

    Continua após a publicidade
    Continua após a publicidade
    carta
    Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
    Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br
    Continua após a publicidade
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.