O ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez Rogério Nora de Sá confirmou ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, que a empreiteira pagou propina ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), preso no Complexo de Bangu desde novembro. Um dos delatores da Lava Jato, Nora de Sá depôs ao magistrado nesta terça-feira como testemunha de acusação na ação penal em que ele, Cabral e outros cinco acusados são réus, incluindo a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.
Questionado pelo procurador do Ministério Público Federal Athayde Ribeiro Costa, o ex-executivo da Andrade disse que uma reunião no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, selou o acerto que entregou ao menos 2,7 milhões de reais em dinheiro sujo ao ex-governador e seu grupo político, que chamava propina de “taxa de oxigênio”.
“Houve uma reunião no palácio com o governador e o Wilson Carlos [secretário de Obras], na presença de nosso representante comercial, Alberto Quintaes, e foi dito que o Wilson Carlos coordenaria essa divisão das obras e haveria pagamento de 5% sobre as faturas das obras que as empresas executassem”, relatou Rogério Nora de Sá.
O delator afirmou a Moro que a propina era retirada em dinheiro vivo por Quintaes do caixa dois da empreiteira e entregue a Carlos Miranda, apontado pelas investigações da Lava Jato como um dos operadores financeiros do esquema de corrupção liderado por Sérgio Cabral.
De acordo com Rogério Nora de Sá, Cabral pediu 1% de propina sobre o contrato de terraplenagem do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, na região metropolitana do Rio.
“Na época, eu disse ao governador que teria dificuldade de honrar porque foi um contrato ganho em uma concorrência muito acirrada, com preço bem abaixo do orçamento da Petrobras. Mas ele me disse que havia compromisso do Paulo Roberto de que deveria ser pago 1% sobre o valor da terraplenagem. Então procurei Paulo Roberto e ele confirmou essa informação. Voltei ao governador e disse que íamos efetuar os pagamentos”, relatou o executivo.
Nora de Sá afirmou que não havia claramente, por parte do grupo de Cabral, uma posição de retaliação em caso de não pagamento da propina, mas que “isso poderia ocorrer e nós não corremos o risco”.
Nesta ação penal o ex-governador fluminense é acusado pelo MPF dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sérgio Cabral também será julgado em outros quatro processos, que correm na Justiça Federal do Rio de Janeiro, sob responsabilidade do juiz federal Marcelo Bretas.
Os investigadores do Rio atribuem 332 crimes de lavagem de dinheiro ao peemedebista.