A vitória acachapante do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) para o comando da Câmara dos Deputados foi recebida com festa pelo governo de Jair Bolsonaro, que viveu em pé de guerra com Rodrigo Maia (DEM-RJ) nos últimos dois anos. Visto como um inimigo político, Maia logo virou alvo preferencial dos bolsonaristas e costumava recair sobre suas costas a responsabilidade da inércia da agenda de reformas e privatizações.
Nos últimos meses, a relação de Maia com o ministro da Economia, Paulo Guedes, estava cada vez pior e sem qualquer diálogo. Com Bolsonaro tampouco havia qualquer interlocução. E era justamente essa falta de pontes com a Câmara o argumento usualmente usado dentro do governo para justificar o atraso na esperada agenda econômica.
Em entrevista a VEJA em dezembro, Guedes alfinetou Maia e Baleia Rossi (MDB-RJ), que se aliaram a partidos de oposição durante a eleição da Câmara, ao tratar sobre mudanças no regime tributário. “Não adianta fazerem acordo com a esquerda e me chamarem para uma reforma tributária que aumenta imposto. Somos liberais. Não vamos aumentar impostos”, disse.
Na mesma linha, Bolsonaro afirmou no último sábado, 30, que se a vitória de Lira se confirmasse, o governo daria prioridade à agenda de reformas e privatizações, citando como exemplo a privatização dos Correios e da Eletrobras – esta última alvo de resistência tanto entre deputados e quanto de senadores. Agora, com a eleição confirmada, o governo não pode mais jogar sobre um adversário a culpa pelo fracasso em suas propostas.
Em resposta às críticas, Maia sempre ponderou que foi ele quem fez avançar a Reforma da Previdência, até agora a única aprovada no governo, e questionava o real ímpeto reformista do próprio presidente da República. Bolsonaro, sabe-se, tem especial resistência quanto à reforma administrativa, já que a medida atingiria diretamente o funcionalismo público e poderia lhe causar danos eleitorais, e poucas vezes defendeu com ênfase uma agenda de privatizações.
Em seu discurso após a eleição, Lira defendeu que o país precisa avançar em uma agenda reformista. “Reformas que, posso dizer, vêm sendo tentadas por sucessivos governos, de diferentes orientações. Mas, no contexto atual e no alarmante quadro fiscal em que nos encontramos, são mais urgentes do que nunca”, disse, evitando, porém, apontar qual seria a sua prioridade. “Essa não é uma resposta que cabe ao presidente da Câmara. Essa é uma pergunta que o presidente da Câmara deve fazer a todas as senhoras e senhores parlamentares, ao governo, aos setores da sociedade civil, aos sindicatos, aos setores produtivos, ao mercado”, ponderou.
Jair Bolsonaro apostou todas as suas fichas na eleição de Arthur Lira. A investida do Palácio do Planalto seguiu à risca a fórmula para se conquistar apoios políticos: liberação de verbas extras aos congressistas, entrega de cargos em órgãos públicos e disseminação até da expectativa de dar um ministério a lideranças do Centrão, concessão que até recentemente era rechaçada por bolsonaristas.
Em contrapartida à aproximação com partidos de centro, Bolsonaro já ouviu dos principais representantes desse grupo que terá a sua reeleição garantida em 2022 e que não precisa perder o sono com as ameaças de impeachment, que lotaram as gavetas do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) nos dois primeiros anos de mandato do ex-capitão. A oferta, portanto, é tentadora aos dois lados: os deputados contam com a generosidade do governo para investir em seus redutos e em seus projetos políticos, enquanto Bolsonaro pavimenta uma vida tranquila e longínqua no poder.
Arthur Lira foi eleito nesta segunda-feira com o apoio de 11 partidos: Progressistas, PL, PTB, PSL, PSD, Republicanos, Podemos, Patriotas, PSC, PROS e Avante. Contra o adversário Baleia Rossi (MDB-RJ), ele recebeu 302 votos e foi eleito em primeiro turno.