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“É um grande golpe”

Advogado de Flávio Bolsonaro diz que as suspeitas de “rachadinha” e de transações imobiliárias irregulares contra seu cliente visam a atingir o presidente

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h54 - Publicado em 14 jun 2019, 07h00
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  • Próximo dos Bolsonaro há cinco anos, o advogado Frederick Wassef, 53 anos, é uma das figuras com maior influência junto à primeira-família. Até aqui, sua atuação era percebida apenas nos bastidores, dando conselhos e apoiando o clã tanto nas campanhas políticas quanto nos momentos difíceis. Isso agora mudou. Wassef decidiu dar as caras e sair da posição de eminência parda. Ele acaba de assumir oficialmente a defesa do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) no processo em que ele é investigado, junto com outros 26 deputados estaduais do Rio de Janeiro, pela suspeita de embolsar parte do salário de seus servidores de gabinete, a chamada “rachadinha”. Conhecido por ser mais impetuoso, Wassef já entrou com um pedido de habeas­-corpus em que aponta uma série de irregularidades que comprovariam, segundo ele, um “grande golpe” engendrado por “forças ocultas” — que gostariam de derrubar o pai do senador, o presidente Jair Bolsonaro. Avesso a holofotes, ele fala pela primeira vez à imprensa na entrevista abaixo.

    Afinal, houve “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro? Não existe e jamais existiu a rachadinha no gabinete do Flávio. Sabe qual é a fama de Flávio Bolsonaro no Rio de Janeiro? Toda a vida ele foi chamado de bobão, infantil, porque nunca participou de nenhum esquema. Era o caxias. Todos sabem que não há um empresário no Brasil que não tenha oferecido rios de dinheiro a Jair, Flávio e Eduardo Bolsonaro, dentro da legalidade. Todos presenciaram que eles nunca aceitaram nem um centavo. Então, eu pergunto: se eles tiveram dentro da lei a oportunidade de receber milhões, por que se submeteriam a uma coisa de tão baixo nível, tão chula, tão sem-vergonha que é pegar esmola, migalhas do salário dos outros?

    O ex-assessor Fabrício Queiroz disse ao MP que, de fato, recebia dinheiro de alguns funcionários do gabinete e o usava para pagar a assessores informais. Isso aconteceu? Não sou advogado do Queiroz. O que eu vi é que ele disse na televisão repetidas vezes que o meu cliente jamais teve conhecimento de coisa alguma e jamais foi repassado recurso algum ao meu cliente.

    Como explicar os funcionários que não eram vistos no gabinete, tinham outra ocupação e mesmo assim recebiam salário da Alerj, como a personal trainer Nathalia, filha de Queiroz? No gabinete do Flávio, eram cerca de vinte funcionários, e havia vaga sobrando. Se ele tivesse interesse em levantar dinheiro com a rachadinha, teria preenchido todas as vagas.

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    O senhor conhece Fabrício Queiroz? Não o conheço, nunca o vi. Eu nem vou ao Rio de Janeiro. Eu gostaria, na verdade, que ele aparecesse.

    Por quê? Ele poderia esclarecer a situação de Flávio Bolsonaro? Se eu tivesse alguma influência sobre Queiroz, eu o teria levado ao Ministério Público (MP) logo em dezembro, para blindar meu cliente. Agora, também fiquei sabendo que ele teve um câncer grave. Sobrevivi a um câncer. Dizer que uma pessoa submetida a uma cirurgia em pleno réveillon está com ardil, está fugindo das investigações, é uma injustiça. O Brasil inteiro perguntando: “Onde está o Queiroz? Onde está o Queiroz?”. Eu queria que essas mesmas pessoas perguntassem onde está quem mandou matar Jair Bolsonaro num ato terrorista.

    “Meu cliente está vivendo um processo moderno de Santa Inquisição. Ele é a bruxa que se queima. Não podemos permitir que isso aconteça em 2019 a um cidadão de bem”

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    O MP cita depósitos feitos em pequenas quantias em uma agência bancária da Assembleia Legislativa do Rio. O que explica essas movimentações atípicas? Não vejo nada de atípico em fazer depósitos de pequenos valores, em dinheiro vivo, em conta-corrente. Foi resultado da venda de um imóvel, a informação bate perfeitamente com a escritura, com o que o comprador alegou, com o que foi declarado à Receita. Ele também tinha receio: era um deputado conhecido, filho de parlamentar federal. Não fazia sentido ele bater na boca do caixa movimentando valores altos. Então, ele foi de forma discreta para fugir da fila.

    Um relatório do MP apontou indícios de lavagem de dinheiro por parte do senador na compra de dezenove imóveis por 9 milhões de reais. O que o senhor tem a dizer sobre isso? São informações distorcidas sendo passadas à imprensa. Não foi dito, por exemplo, que os imóveis vendidos eram salinhas de 26 metros quadrados. Os promotores superfaturaram os valores. Chegaram a falar em imóveis luxuosos. Mentira. Flávio exercia um trabalho legal na compra e venda de imóveis, como milhões de brasileiros. O objetivo do MP era induzir o Poder Judiciário ao erro e fazer parecer que o meu cliente lavou dinheiro.

    Estamos falando de investigações que começaram no ano passado. Por que o senhor está assumindo a defesa de Flávio Bolsonaro só agora? Estou assumindo o caso depois de constatar as inúmeras irregularidades, abusos, arbitrariedades e ilegalidades cometidas contra o senador Flávio Bolsonaro.

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    Que abusos seriam esses? Já de início, o MP declarou que o senador não era investigado. Era mentira. Qualquer um que lê a primeira página do procedimento investigatório vê claramente que ele é o principal objeto da investigação. Para isso, o MP deveria ter pedido o aval da Justiça. Em segundo lugar, houve uma quebra de sigilo bancário e fiscal sem a autorização do Poder Judiciário.

    Mas não foi um procedimento de rotina do Coaf? Explico: uma coisa é a troca de informações entre o Coaf e o MP. Agora, o que aconteceu foi outra coisa: sem a Justiça saber, um funcionário do promotor solicita via e-mail ao Coaf informações mais detalhadas. O Coaf, por sua vez, pede ao banco Itaú, no qual o Flávio tem conta, que passe as informações detalhadas, com tudo o que foi movimentado, o que saiu, o que entrou, os cheques, os valores, os beneficiários, a hora das transações. Nem o extrato bancário é tão minucioso. Aí está 101% caracterizada a quebra do sigilo bancário. Além da quebra de leis e regras, houve o permanente vazamento de informações em tempo real de tudo o que acontece com o Flávio. Portanto, todo o processo é absolutamente nulo.

    A Justiça, no entanto, acatou as suspeitas do Ministério Público e quebrou o sigilo bancário de Flávio em abril. Meu máximo respeito aos juízes e promotores. Mas eles não são deuses encarnados. São passíveis de erro, motivo pelo qual existem as cortes superiores. Chama atenção que se faça uma devassa de doze anos em 95 pessoas, a maioria delas sem nenhum vínculo com o caso. O que a mulher e o sogro de Flávio têm a ver com isso? O que você sentiria se sua mãe tivesse a vida devassada porque eventualmente tomou café na casa de um investigado?

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    Mas o que o senhor espera? Que a Justiça se retrate pela investigação? Cabe ao Ministério Público fazer uma investigação e apurar o seguinte: por que para todos os cidadãos brasileiros há uma conduta de praxe e para o meu cliente o tratamento é diferenciado, de absoluta perseguição? Não tenho dúvida de que é um trabalho direcionado. Forças ocultas estão sabotando este governo e atacando o presidente da República das mais variadas formas. Sempre fizeram isso. Antes, durante e depois da eleição. E agora se escolhe o caminho mais injusto e cruel para fazer isso, que é a destruição da reputação do seu filho.

    “Chegaram até a atribuir a ele a morte de Marielle. Só pode ser piada de mau gosto, né? Em algum momento, vão dizer que o assassinato de Kennedy é obra de Flávio Bolsonaro”

    Seu cliente seria, então, vítima de perseguição? Meu cliente está vivendo hoje um processo moderno de Santa Inquisição. Ele é a bruxa que se queima para depois descobrir que foi um engano. Não podemos permitir que isso aconteça em 2019 contra um cidadão de bem, que é senador e filho do presidente da República. Aliás, esse é o azar dele. Se ele fosse filho de algum traficante do Rio, garanto que não estaríamos aqui nos falando. Tenho convicção absoluta, e é voz corrente no Brasil, de que isso é um projeto para derrubar o presidente, já com vista à eleição de 2022. O que está em curso é, na verdade, um grande golpe para atingir o presidente da República. O alvo aqui se chama Jair Bolsonaro, e o filho está sendo usado como isca para pegar o pai.

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    O que mudou na vida de Flávio Bolsonaro com a investigação? Qualquer pessoa que tem sua vida exposta na televisão passa por todo tipo de constrangimento e depressão. Ele já começou a ser questionado na rua. Desde dezembro, são matérias repetitivas e diárias de catorze, dez, nove, oito minutos associando a imagem do Flávio a lavagem de dinheiro, corrupção e desvio de verba pública. É para destruir não só o Flávio, mas a marca da família, que sempre combateu a corrupção. Ele não é indiciado, não é denunciado, mas já foi condenado por uma mentira dita milhares de vezes.

    Há indícios de que Queiroz é ligado às milícias do Rio de Janeiro. Flávio Bolsonaro já homenageou um miliciano da favela de Rio das Pedras, Adriano Nóbrega, ex-comandante do Bope, hoje foragido. Como o senhor responde às associações entre seu cliente e as milícias? Isso é só mais fake news. Falam muito da ex­-mulher e da mãe desse cidadão chamado Adriano Nóbrega. Elas trabalharam no gabinete do Flávio, como outras pessoas da comunidade. Na época, o Flávio descobriu um policial que era um herói em serviço e o homenageou, como fez com diversos outros policiais. Como é que o Flávio teria poderes paranormais para adivinhar que esse cara seria acusado dez anos depois? E mais: eu, dentro do meu exercício legal, fui apurar a história. Descobri que não há nada contra esse cidadão.

    Mas Adriano Nóbrega foi expulso da Polícia Militar em 2014 por ligação com a máfia do jogo do bicho. O que existe é uma fraude e uma armação contra ele. Pelo que aprendi na faculdade, todo brasileiro é inocente até que exista uma sentença judicial transitada em julgado contra ele.

    O senhor acredita então que as investigações sobre o Escritório do Crime, a milícia de Rio das Pedras, não têm base nos fatos? Não conheço nenhum desses personagens. Mas o que eu posso dizer é que há forças ocultas que estão tentando atingir a marca Bolsonaro com criminosas imputações e ilações. É o seguinte: querem fabricar um monstro que seria chefe da milícia para então dizer que essa milícia é relacionada ao meu cliente. Chegaram até a atribuir ao Flávio a morte de Marielle. Só pode ser uma piada de mau gosto, né? Em algum momento vão dizer que o assassinato de John Kennedy é obra de Flávio Bolsonaro.

    Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 2639

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