O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), desistiu nesta quinta-feira 19 de incluir neste mês a “ração humana” na merenda escolar da rede municipal. O produto – oficialmente chamado de farinata – é composto por alimentos perto da data de validade e que seriam descartados.
O recuo de Doria aconteceu um dia após ele ter anunciado que iria inserir o alimento como complemento na merenda escolar, em entrevista coletiva ao lado do arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer. O prefeito havia tomado a decisão sem consultar a Secretaria Municipal de Educação.
Nesta quinta, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu um procedimento de acompanhamento (PAC) da proposta. O processo foi aberto pelo promotor José Carlos Bonilha, da área de Direitos Humanos, que vai enviar ofícios às instituições envolvidas para que elas prestem “os esclarecimentos necessários” e que seja possível verificar o valor nutricional do produto, visto que as posições da prefeitura e do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN) – que criticou a proposta – são divergentes. “É dever do Ministério Público zelar pela segurança alimentar da população. Nesse momento, a gente precisa entender melhor o que está acontecendo”, diz.
Uma pessoa próxima ao prefeito ouvida por VEJA afirmou que Doria decidiu recuar por ter percebido que essa iniciativa não iria dar certo e ela contrariava o programa de merenda da própria prefeitura. Em nota enviada na noite desta quinta, a assessoria de imprensa da prefeitura diz vai priorizar a distribuição da farinata para as famílias em situação de vulnerabilidade social e não cita a inserção do produto na merenda.
“A Prefeitura de São Paulo esclarece que o plano municipal de erradicação da fome e promoção da função social dos alimentos vai dar prioridade ao atendimento de famílias em situação de vulnerabilidade social, em especial aquelas que possuem crianças de até três anos”, diz o texto. “A eventual distribuição do composto alimentar do programa denominado Allimento para Todos, no formato de farinata, será de atribuição, principalmente, dos serviços municipais de assistência social”.
A farinata tem sido alvo de polêmicas desde a semana passada, quando Doria anunciou que iria usar esse produto para “erradicar a fome” em São Paulo. Vários nutricionistas tem contestado o valor nutricional da farinata, bem como a falta de transparência sobre como ela vai ser fabricada.