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Dilma diz que nunca autorizou caixa dois em campanhas eleitorais  

Em resposta a marqueteiros que revelaram pagamentos ilegais em 2010 e 2014, petista afirma que sempre deu ‘orientação clara’ sobre isso aos seus tesoureiros

Por Da Redação
19 abr 2017, 17h11
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  • A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) disse, por meio de nota, nesta quarta-feira que nunca autorizou o recebimento de dinheiro para suas campanhas eleitorais por meio de caixa 2 e que desconhece que isso tenha sido desrespeitado por suas equipes. A declaração foi uma resposta às afirmações dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que, em depoimentos ao juiz Sergio Moro na terça-feira, disseram que receberam, no exterior, dinheiro ilegal das campanhas da petista em 2010 e 2014.

    “Nas duas eleições, a orientação de Dilma Rousseff sempre foi clara e direta para que fosse respeitada a legislação eleitoral em todos os atos de campanha. Ela nunca teve conhecimento de que suas ordens tenham sido desrespeitadas. Todos que participaram nas instâncias de coordenação das duas campanhas sempre tiveram total ciência dessa determinação”, disse a assessoria da ex-presidente na nota.

    De acordo com ela, “as únicas pessoas autorizadas a captar dinheiro, em conformidade com a legislação eleitoral, foram os tesoureiros regularmente investidos nessas funções nas campanhas de 2010 e 2014”, se referindo a José de Filippi Júnior (tesoureiro em 2010) e Edinho Silva (em 2014) – os dois também negam terem recebido caixa dois.

    Santana havia dito ao ser preso em fevereiro de 2016 na Operação Acarajé – depois que investigadores rastrearam depósitos na Odebrecht em uma conta sua aberta no Panamá e sediada na Suíça – que o dinheiro era oriundo de campanhas eleitorais feitas fora do país. O marqueteiro também atuou em eleições na África e na América Latina. Nesta terça-feira, no entanto, ele admitiu que havia mentido, para tentar manter Dilma no cargo de presidente – ela seria afastada dois meses depois pela Câmara – e que o dinheiro recebido no exterior era, sim, de campanhas eleitorais da petista.

    De quebra, ele disse ter recebido pagamentos por meio de caixa dois das campanhas dos também petistas Fernando Haddad, em São Paulo, e Patrus Ananias, em Belo Horizonte, em 2012, e de Marta Suplicy (hoje no PMDB), em São Paulo, e Gleisi Hoffmann, em Curitiba, em 2008. Os repasses teriam sido feitos pela Odebrecht por intermediação do ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda Antônio Palocci.

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    Santana deu detalhes de como começou a trabalhar para a campanha (vitoriosa) à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Segundo ele, em agosto de 2005, logo após o estouro do escândalo do Mensalão, ele foi convidado a ir a Brasília para uma conversa com o então presidente Lula. “Encontrei ele num momento fragilizado. Ele me convidou para saber se poderia ajudá-lo nesse momento. Eu disse que sim. E ele me disse: ‘Olha, qualquer detalhe mais burocrático, o Palocci depois conversa com você”, contou Santana.

    Na mesma noite, segundo o seu depoimento, ele avisou o então ministro da Fazenda que esperava receber os pagamentos de forma legal, principalmente após os desdobramentos do Mensalão que atingiram o seu ex-sócio, o marqueteiro Duda Mendonça. Em maio de 2006, no entanto, ele teria recebido o seguinte recado de Palocci: “Infelizmente, não vai poder ser tudo com recursos contabilizados, por causa das dificuldades naturais, da cultura existente, mas nós temos uma empresa que dá total garantia para fazer o pagamento. Você deve conhecer. É a Odebrecht”, teria dito Palocci.

    Já Mônica Santana disse que “em todas as campanhas políticas” que o casal atuou houve pagamento de caixa dois. “Sempre trabalhamos com caixa dois. Em todas as campanhas. Não acredito que exista um marqueteiro no Brasil que trabalhe só com caixa um”, disse ela, dando como exemplo, inclusive, a campanha presidencial de Dilma em 2014.

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    Ela também explicou que os valores eram pagos em espécie — “em malas e mochilas entregues em hotéis e flats. Assim como a gente recebia em caixa 1 e 2, a gente também gastava em caixa 1 e 2” — e que “todos os candidatos” sabiam dos pagamentos por fora. “Posso lhe dizer com segurança que todos eles sabiam dos valores exatos e de quanto estavam nos pagando e de quanto era o pagamento”, respondeu ela ao ser indagada por Moro se os políticos tinham conhecimento da prática ilícita.

    Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, também  já havia dito a Moro que Dilma tinha conhecimento de pagamentos em caixa 2. “Ela sabia do apoio que eu dava ao amigo dela”, disse o empreiteiro, referindo-se a Santana. O delator ainda enfatizou que, em maio de 2015, durante uma viagem ao México, mostrou a Dilma “a quantidade que poderia contaminar a campanha dela”.

    Dilma, na nota divulgada por sua assessoria, disse esperar que “as investigações, que precisam ser conduzidas de maneira isenta e imparcial, permitam ao final que a Justiça seja feita, em respeito ao estado democrático de direito”.

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