Jair Bolsonaro aposta numa série de medidas adotadas no ano passado para recuperar popularidade e turbinar sua campanha à reeleição. Com a nomeação do pastor presbiteriano André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente acredita que conquistará o apoio da maioria do eleitorado evangélico. Já com a implantação do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que substituiu o Bolsa-Família, ele acha que ganhará terreno entre aqueles que têm renda mensal de dois a cinco salários mínimos. Até aqui, essas duas iniciativas não renderam os frutos esperados.
Encomendada pela Genial Investimentos, uma pesquisa da Quaest divulgada na quarta-feira 9 mostrou que a avaliação negativa ao governo do ex-capitão subiu, entre janeiro e fevereiro, tanto entre evangélicos (36% para 37%) quanto entre quem ganha de dois a cinco salários mínimos (52% para 57%). Uma série de fatores explica esse alto nível de rejeição. Um deles é a crise econômica, especialmente a carestia dos preços. Em janeiro, a inflação oficial foi de 0,54%, a mais alta para o mês desde 2016. No caso da inflação dos mais pobres, o índice foi ainda maior, de 0,67%. No acumulado de doze meses, superou a casa dos 10%.
O reflexo desses dados no bolso e no humor do eleitorado, dizem os próprios aliados do presidente, é uma das principais ameaças à reeleição. De acordo com o levantamento da Quaest, 80% desaprovam a atuação do governo no combate à inflação. Mais: 53% dizem que, nos últimos três meses, tiveram mais dificuldade para pagar as próprias contas. Só 18% afirmaram que a situação melhorou. Na faixa de renda entre quem ganha de dois a cinco salários mínimos, passou de 60% em janeiro para 65% em fevereiro o percentual de quem declara ter tido mais dificuldade para se sustentar.
Como a adoção do Auxílio Brasil até agora não foi capaz de impulsionar a campanha à reeleição como Bolsonaro esperava, seus aliados, com o consentimento do presidente, querem promover uma farra fiscal. A ideia é promover gastos adicionais de 50 bilhões de reais a 100 bilhões de reais, com medidas que vão da diminuição de tributos de energia à adoção de um vale-diesel para caminhoneiros. Em campanha, políticos fazem o diabo, como disse certa vez Dilma Rousseff. O problema, como reza a sabedoria popular, é que as consequências vêm depois. Técnicos da equipe econômica afirmam que, se esse pacotaço for aprovado, o Brasil enfrentará, entre outros males, mais inflação e alta de juros.