O advogado criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho, que fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-geral da República (PGR) há cerca de dois meses, disse em sua proposta de colaboração com a Justiça que o juiz Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, intermediou um acordo informal com o ex-governador do estado Sergio Cabral (MDB) em que a moeda de troca seria poupar a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo das investigações da Lava-Jato. Responsável pelos casos relacionados ao petrolão no Rio, o magistrado negou a acusação do delator e, em nota da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), informou que “nega veementemente a acusação de ter participado da celebração de acordo para favorecer Adriana Ancelmo ou Sérgio Cabral”.
No anexo 2 do acordo de colaboração, Nythalmar afirma que, por volta de maio de 2018, a pedido do ex-deputado Marco Antonio Cabral, filho do ex-governador, procurou Bretas com a proposta de livrar Adriana. Segundo o relato do advogado, o juiz foi abordado em seu próprio gabinete e ouviu a proposta de Cabral e Adriana para que a ex-primeira-dama fosse retirada das investigações da Lava-Jato. “Nesta ocasião o dr. Marcelo Bretas falou que tal demanda poderia ser atendida desde que eles abrissem mão de todo o patrimônio que possuíam e que Sérgio Cabral assumisse os crimes a ele imputados”, disse o delator. Na sequência, ainda conforme a versão de Nythalmar à PGR, ficou acertado que Bretas iria “ajustar preliminarmente” o acordo com o procurador Eduardo El Hage, da Lava-Jato no Rio.
No dia 12 de junho de 2018, no parlatório do presídio de Bangu 8, onde Sérgio Cabral está preso, o criminalista delator disse ter informado ao ex-governador que “existiu um interesse recíproco de ambas as partes, tanto dele quanto do juízo”. Ao saber das condições da proposta – abrir mão de todo o patrimônio – o emedebista, no entanto, teria protestado: “Isso é um absurdo, esses bens não são meus. São da Adriana. Adriana não fez nada. Eu preciso salvar a Adriana”. Em seguida, porém, Cabral concordou com a proposta e “nesse momento Sérgio Cabral afirma que na audiência, ao que se recorda aconteceria no dia seguinte, iria iniciar o processo de assumir as imputações criminosas como forma de acenar a seriedade deste acordo informal”.
Quando Bretas foi informado de que o ex-governador concordou com o suposto acordo, relata o delator, o juiz teria dito que também já havia “ajustado com a força-tarefa do MPF-RJ” e exigido que o casal Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo redigissem “uma carta de próprio punho abrindo mão de todo o patrimônio e juntassem aos autos”. Na Operação Eficiência, onde, segundo o delator, o “acordo informal” começaria a ser colocado em prática, Adriana Ancelmo ganhou isenção de pena no crime de lavagem de dinheiro, mas foi sentenciada em quatro anos e meio por corrupção.
Nythalmar disse que o MP recorreu da sentença “a fim de encobrir a sua participação e a do juiz” e afirmou que tem um áudio que provaria que as articulações não se restringiram a este episódio e que “demonstra a participação, ciência e aquiescência de acordo similar” na Operação Saqueador, que teve como alvos o ex-dono da construtora Delta Fernando Cavendish. Em nota, os procuradores da Lava-Jato no Rio disseram que o relato do episódio é “incongruente” e que “é surpreendente que a Procuradoria-Geral da República tenha celebrado acordo de colaboração com Nythalmar Dias Ferreira Filho, figura conhecida por distorcer a realidade de fatos para obter benefícios pessoais”.