A imagem do chefe terrorista peruano Abimael Guzmán enjaulado de uniforme com listras pretas e brancas virou um dos ícones dos anos 1990. O fundador do grupo Sendero Luminoso tinha sido preso, em setembro de 1992, pelo governo do presidente Alberto Fujimori e foi exposto à execração pública, em pleno julgamento, como troféu político. Guzmán, conhecido também pelo codinome de Camarada Gonzalo, recebeu pena de prisão perpétua, responsabilizado pela morte de pelo menos 35 000 peruanos nos anos 1980. Formado em direito e filosofia, ele aproveitou sua temporada como professor na Universidade Nacional de Huamanga, em Ayacucho, na região andina do sul, para recrutar universitários que depois se transformariam em frios e cruéis soldados da sanguinária agremiação maoista.
Guzmán morreu em 11 de setembro, aos 86 anos, em uma cadeia de segurança máxima de Lima. Ao anúncio da morte, deu-se imenso ruído em torno de um personagem marcado pelo horror. O governo do presidente recentemente eleito, Pedro Castillo — à esquerda no espectro político, e que durante a campanha eleitoral ameaçou fechar o Congresso e a Suprema Corte, para depois recuar —, não sabia o que fazer com o corpo: entregá-lo aos familiares do terrorista ou simplesmente reduzi-lo a nada. Havia o temor de que um local com a lápide de Guzmán pudesse virar ponto de peregrinação de radicais em um país polarizado. Deputados de oposição exigiam o anúncio de um decreto, por parte do Executivo, com uma ordem para fazer desaparecer os restos de Guzmán. Um ex-ministro do Interior do governo de Ollanta Humala foi claro ao rechaçar a ideia de jogar as cinzas no Pacífico: “Não devem contaminar o Mar de Grau”. Até quinta-feira 16, o destino do incômodo passado de Guzmán estava indefinido.
Da agricultura à educação
O empresário Celso Silveira Mello Filho e seu irmão, Rubens Ometto Silveira Mello, foram responsáveis pelo crescimento e pela expansão de um dos setores mais vigorosos da economia brasileira nas últimas décadas, o sucroalcooleiro. A dupla criou uma das mais relevantes e bem-sucedidas holdings do Brasil, a Cosan, de energia e infraestrutura. Se Ruben foi sempre o gestor zeloso pelas finanças e organização, Celso foi o homem de pé no chão, próximo aos canaviais e aos funcionários das usinas, com quem organizava animadas partidas de futebol. Não por acaso, foi presidente do XV de Piracicaba em duas oportunidades, no fim dos anos 1980 e início dos 1990. Em 2004, abriria espaço para uma outra atividade de sua preferência, que transformaria em missão de vida: a educação. Ele construiu e bancou a Faculdade de Ensino Superior da Amazônia, em Redenção, no Pará, a 900 quilômetros de Belém. “Sou um agricultor que também se apaixonou em ser educador”, gostava de dizer. Celso morreu em 14 de setembro, próximo a Piracicaba, na queda de um avião de pequeno porte, o bimotor King Air 360. Tinha 73 anos. Na tragédia, morreram também sua mulher, Maria Luiza Meneghel, de 71 anos, os três filhos do casal, os gêmeos Celso e Fernando, 46 anos, e Camila, 48, o piloto Celso Elias Carloni e o copiloto Giovani Gulo.
Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2021, edição nº 2756