Em seu interrogatório como réu na Justiça Federal do Distrito Federal, nesta segunda-feira, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) voltou a negar que tenha recebido dinheiro do Grupo J&F em troca de não fechar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). Para Cunha, a delação do empresário Joesley Batista, sócio do J&F, que trouxe essa acusação, foi “forjada” para derrubar o presidente Michel Temer (PMDB) (assista acima).
Joesley gravou uma conversa com Temer no Palácio do Jaburu, em março, na qual ele informou ao peemedebista que estaria “de bem” com Eduardo Cunha o doleiro Lúcio Bolonha Funaro. O presidente respondeu: “Tem que manter isso aí”. Segundo o empresário, o “estar de bem” significava que ele estava pagando a Cunha e Funaro para evitar suas delações premiadas, e que o presidente o encorajou.
A gravação do diálogo entre Joesley e Temer baseou denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente pelo crime de obstrução à Justiça, arquivada pela Câmara, no final de outubro, por 251 votos a 233.
“Não existe essa história de dizer que eu estou em silêncio ou que vendi meu silêncio para não delatar. Queriam atribuir isso pra atribuir um crime presente pra justificar uma denúncia que pegasse o mandato do Michel Temer. Essa que é a verdade. Isso foi uma forjada. Deram uma forjada e o seu Joesley foi cúmplice dessa forjada. E ele tá pagando o preço por isso agora”, afirmou Eduardo Cunha, em referência à prisão de Joesley Batista sob a acusação de usar a informação privilegiada da delação da JBS para lucrar no mercado financeiro.
“Primeiro lugar, eu não tô em silêncio. Segundo lugar, nunca houve proposta nem do Ministério Público nem da Polícia Federal pra que eu fizesse delação”, completou Eduardo Cunha, que acusou Lúcio Funaro de “absorver” a “retórica” criada por Joesley para envolver Temer.
Em sua delação premiada, Funaro admitiu manter um “pacto de silêncio” com Joesley e que assinou um contrato fictício com o empresário. Pelo acordo, o empresário pagou entre 400.000 reais e 600.000 reais mensais ao lobista depois que ele foi preso, em julho de 2016. O dinheiro era recolhido por uma irmã e um irmão de Lúcio Funaro.
O ex-presidente da Câmara depôs ao juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, responsável pelo processo aberto a partir da Operação Sépsis, que investiga cobrança de propina por políticos em troca da liberação de aportes do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), controlado pela Caixa Econômica Federal.