O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que a ocupação da Mesa Diretora por senadoras da oposição foi um “gesto estudantil” que degrada ainda mais a imagem do Parlamento. Segundo ele, o protesto que retardou a votação da reforma trabalhista levará a opinião pública a questionar a utilidade do Congresso.
“Um gesto estudantil dentro do Parlamento desmoraliza o processo parlamentar e a democracia”, disse Buarque a VEJA. “Se esse protesto fosse feito numa época em que o Parlamento estivesse moralmente prestigiado, creio que seria um ato menor. Mas esse gesto estudantil foi degradante para a liturgia parlamentar. Aliado à corrupção generalizada, ele poderá ter consequências negativas para o Congresso.”
Bolsonaro
O senador acrescentou ainda que o ato fortalece a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à Presidência da República. “Creio que o Brasil não está se dando conta do perigo que significa esse senhor Bolsonaro. Essas senadoras fortaleceram a candidatura dele, porque a opinião pública está se perguntando se o Congresso serve para isso, se é assim que os parlamentares se comportam.”
Bolsonaro é entusiasta da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Em abril do ano passado, o deputado homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra na votação de abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef (PT).
Buarque afirmou também que o ato da oposição poderia atrair votos pela reforma trabalhista. “Dois senadores me disseram que irão votar a favor da reforma porque ficaram indignados com esse tipo de comportamento. Eles estavam em dúvida e queriam debater. Outro me disse que agora se sente à vontade para interromper qualquer votação que estiver perdendo”, declarou.
Conselho de Ética
Buarque foi um dos quinze senadores que assinou o pedido de instauração de processo no Conselho de Ética contra as senadoras, protocolado pelo senador José Medeiros (PSD-MT). Ele diz ser contrário à aplicação de punições para as opositoras, mas espera que elas possam dar explicações para os eleitores. “Se o fato for jogador para debaixo do tapete, será ruim para elas e para o Senado.”