Cotada para ser vice de Ramagem nega convite, em nova vitória de Paes
Deputada estadual Tia Ju gravou vídeo em que diz que seguirá na Assembleia; decisão é derrota do cacique Eduardo Cunha, que tentava enfraquecer o atual prefeito
A deputada estadual Tia Ju (Republicanos), principal cotada para compor a vice na chapa do deputado federal Alexandre Ramagem (PL) à Prefeitura do Rio, anunciou neste sábado, 3, que não vai aceitar o convite e seguirá cumprindo seu mandato na Assembleia Legislativa. A decisão passa por um racha em seu partido, controlado na capital pelo cacique Eduardo Cunha, mas intrinsecamente ligado à Universal, que vai apoiar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD). A decisão representa uma derrota de Cunha, que vinha tentando tirar força de Paes, depois de perder espaço em seu governo.
Eleita com a força da igreja, controlada pelo bispo Edir Macedo, Tia Ju decidiu seguir a ala religiosa de seu partido. No Rio, essa parte do Republicanos hoje caminha ao lado de Eduardo Paes, que deu ao Bispo João Mendes, um dos nomes fortes do estado, a secretaria de Diversidade e Inclusão. O prefeito também já havia filiado Deangeles Percy, um dos expoentes políticos da Universal, a quem deu autonomia para ser candidato a vereador e organizar seu grupo. Tais movimentos permitiram o golpe que asfixiou ainda mais a candidatura de Ramagem, hoje seu principal opositor no pleito.
“Olá, pessoal! Esses dias vi muita gente ligando, perguntando se serei vice do Ramagem. Não serei. Quero muito agradecer o meu partido, ao PL, à indicação do meu nome, mas vou continuar como deputada estadual aqui na Assembleia”, anunciou, em vídeo que começou a circular nas redes sociais.
Nos últimos dias, a composição de Ramagem com Tia Ju era dada praticamente como certa por membros do PL, que organizam a campanha do deputado federal, aposta do bolsonarismo na capital fluminense. Por ser mulher, negra e evangélica, era ela vista com o perfil ideal para compor a chapa com o ex-delegado da Polícia Federal.
O movimento vinha sendo articulado por Cunha, que ganhou do presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, o poder de comandar a sigla na cidade do Rio. Irritado com Paes após perder as secretarias que dominava em seu governo, o cacique tentou uma retaliação com a indicação da parlamentar estadual. Na ligação que fez a ela para confirmar o gesto, contudo, ouviu que ela “seguiria as orientações de seu grupo político”.
No último mês, o presidente estadual do Republicanos, Waguinho, também já havia declarado apoio pessoal ao atual prefeito, apesar de sua posição institucional. O movimento aconteceu porque tanto ele, quanto Paes, são vistos como aliados de primeira hora no Rio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O saldo é positivo para Eduardo Paes, que seguirá influente ao longo da campanha eleitoral tanto entre fiéis da Universal, quanto entre aqueles que seguem a Assembleia de Deus. Ele também atraiu o deputado federal Otoni de Paula, que atua como um dos coordenadores de sua campanha com foco no eleitorado evangélico, a contragosto do partido ao qual o parlamentar é filiado, o MDB — que também apoiará formalmente Ramagem.