De olho na corrida pelo Palácio do Planalto e no derretimento da aprovação do governo Bolsonaro, Ciro Gomes tem reforçado o discurso contra o Partido dos Trabalhadores para tentar arrebatar votos daqueles desencantados com o ex-capitão — mas que torcem o nariz para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já chamou de “maior corruptor da história moderna brasileira” o petista, de quem, aliás, foi ministro da Integração Nacional por três anos e três meses. Também falou que o governo Lula “deu pouco para os pobres e muito, muito mesmo para os ricos”. A mudança radical no tom de Ciro, que em 2018 se recusou a declarar apoio a Fernando Haddad e viajou para Paris durante o segundo turno, tem incomodado o PT.
“Eu sempre digo que prefiro as atitudes do Ciro às palavras do Ciro. O Ciro foi um aliado importante para nós, no tempo do mensalão teve uma postura corajosa, defendia o nosso governo mais do que muitos de nós. Eu lamento pessoalmente essas posturas dele, essa verborragia dele, mas eu sempre guardo a esperança de que em um momento a gente possa estar junto”, disse a VEJA o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
Na avaliação de Gilberto Carvalho — e de muita gente na República –, Ciro está apostando na tática de tentar se firmar como o anti-Lula, em caso de naufrágio de Bolsonaro, cuja aprovação vem caindo em meio aos efeitos devastadores da pandemia de Covid-19. “A meu juízo é uma tática equivocada. Primeiro porque ele subestima o Bolsonaro e a direita. E segundo, porque dizer que o Lula tem erros na vida, tudo bem, todos nós temos, agora dizer que Lula é o maior corruptor da história, não. Ele mesmo sabe que é mentira.”
“Essa tentativa de que o Bolsonaro fracasse e ele se constitua no anti-Lula e possa ganhar a eleição, que é a quarta que ele vai disputar, é uma pena, é uma perda de energia, cria um problema gravíssimo para nós com o PDT, que é um partido com quem temos uma aliança histórica. A presença dele no PDT cria um enorme constrangimento para essa aliança. Tem muita gente que eu sei, que eu conheço no PDT, absolutamente constrangida com essa situação. É ruim. E não vai levar a nada”, acrescenta Carvalho.
Pesquisa Datafolha divulgada no mês passado mostra Lula liderando as intenções de voto, com 41% da preferência do eleitorado, ante 23% de Bolsonaro — Ciro Gomes aparece em um distante quarto lugar, com 6%, atrás inclusive de Sérgio Moro, que aparece em terceiro com 7%. Em busca do voto evangélico, segmento que representa cerca de 30% da população, tanto Lula quanto Ciro tem feito acenos aos religiosos. Para Carvalho, as pontes com Ciro podem não ter sido dinamitadas, mas “estão muito dificultadas”.
“Se ele continuar com isso tenho certeza que a candidatura dele não prosperará. Até porque é o seguinte: se for para ter um candidato anti-Lula da centro-direita, não será o Ciro Gomes. O próprio mercado, os próprios pensadores da direita não vão escolher o Ciro Gomes, vão escolher uma pessoa mais confiável a eles. O Ciro Gomes é uma pessoa de centro-esquerda, e não de centro-direita. Ele não tem a confiança da banca, dos grandes capitalistas, ele tenta se credenciar para um lugar onde ele não é aceito”, avalia o ex-chefe de gabinete de Lula.
VEJA procurou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que não retornou as ligações. A assessoria de Ciro Gomes informou que o pré-candidato à Presidência não se manifestaria.