O presidente Jair Bolsonaro (PSL) questionou novamente nesta segunda-feira, 22, a divulgação de dados do monitoramento de desmatamento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo ele, os números são muito altos e é necessário ter “mais responsabilidade” na divulgação dos dados. “O chefe do Inpe será ouvido pelos ministros, para conversar com ele para que isso não continue acontecendo. É o mesmo que um cabo passar uma notícia sem passar pelo capitão, coronel ou brigadeiro. Não está certo isso aí.”
Bolsonaro questionou ainda a interpretação das informações: “Quando você pega os dados, a pessoa conduz para aquele lado”. Segundo ele, “o mundo inteiro leva em conta” a questão ambiental e a divulgação de dados como esse pode prejudicar negociações bilaterais e do Mercosul.
O ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) endossou o discurso do chefe. Nesta segunda, ele afirmou que compartilha a “estranheza” de Bolsonaro quanto à variação dos dados e pediu um “relatório técnico completo” sobre os últimos dois anos de análises. Ele também afirmou que vai cobrar um posicionamento do diretor do Inpe, Ricardo Galvão — o órgão está subordinada à pasta comandada por Pontes.
Em nota, Pontes diz que a “contestação de resultados, assim como a análise e discussão de hipóteses, são elementos normais e saudáveis do desenvolvimento da Ciência, suas teorias e metodologias” e que está solicitando ao Inpe “um relatório técnico completo contendo os resultados da série histórica dos últimos 24 meses, assim como informações detalhadas sobre os dados brutos, a metodologia aplicada e quaisquer alterações significativas desses fatores no período”.
De acordo com a nota, o relatório será analisado por técnicos do ministério, do próprio Inpe e também do Ministério do Meio Ambiente. Segundo Pontes, isso visa à “melhoria continuada do monitoramento e preservação ambiental, assim como o aperfeiçoamento das ferramentas e metodologias empregadas no sistema”.
‘Conversa de botequim’
Na última sexta-feira, Bolsonaro, em café da manhã com jornalistas estrangeiros, disse que os dados que mostram aumento da perda da floresta em junho e julho são mentirosos. Ele também insinuou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”. No sábado, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Galvão afirmou que o presidente fez “comentários impróprios” e “ataques inaceitáveis” que mais parecem “conversa de botequim” e disse que a atitude dele foi “pusilânime e covarde”. O pesquisador ainda desafiou o presidente a repetir os comentários olhando nos olhos dele e disse que não pediria demissão.
Sobre as declarações feitas por Galvão à imprensa, disse: “Embora entenda o contexto do fator emocional, discordo do meio e da forma utilizada pelo diretor, visto que não corresponderam ao tratamento esperado na relação profissional, especialmente com o chefe do Executivo do País”. E afirmou que convidou Galvão a comparecer ao Ministério para “esclarecimentos e orientações”. Segundo o ministro, “a partir dessa reunião serão definidos novos passos”.