Com 19 pontos percentuais de desvantagem frente ao líder Lula (PT) na corrida presidencial, Jair Bolsonaro (PL) é, ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o maior entusiasta da instalação de uma turbulenta – e provavelmente instável – CPI da Petrobras, ainda que a comissão de inquérito propriamente dita nunca precise nem sair do papel. A avaliação, feita a VEJA pelo líder do governo Ricardo Barros (PP-PR), é a de que o ex-capitão, ao insuflar uma investigação contra a estatal, quer demonstrar que a petroleira tem mais responsabilidades do que o presidente em um episódio eleitoralmente desafiador, as altas frequentes nos preços dos combustíveis. Para quem enfrenta um adversário que, na pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta, 23, pode vencer a eleição já no primeiro turno, um discurso nesses moldes é a boia de salvação para tentar se manter competitivo na corrida presidencial.
“O objetivo o presidente já alcançou. Quer dizer o seguinte: ‘Falam que eu mando na Petrobras, mas eu não mando. Eu demito o cara, e o cara não sai. Eu nomeio, e o cara não assume. Eu não mando.’ Então, está claro que a responsabilidade do aumento é da empresa, não é do governo, embora o governo seja acionista majoritário. Isso é o que o presidente tentou passar na comunicação dele”, disse Barros, lembrando que o então presidente demissionário da estatal, José Mauro Coelho, resistiu por semanas a ceder a cadeira para o novo indicado o Executivo, Caio Paes de Andrade. “A CPI tem dificuldades. É uma vontade do presidente e do Eduardo Bolsonaro, que estão mais na pilha disso. Depois da reunião de líderes veio a turma do ‘deixa disso’. A oposição inteira está contra”, completou o parlamentar.
O raciocínio público de Ricardo Barros, embora condizente com o cargo de líder do governo, esconde o objetivo que está no cerne da defesa que Bolsonaro e aliados fazem da instalação da CPI: usar a estatal símbolo do petrolão como arma política para desgastar o ex-presidente Lula e o PT a pouco mais de três meses do primeiro turno. Entre os governistas, o entendimento é de que a investigação poderia reacender o principal escândalo de corrupção do país e relembrar a potenciais eleitores que Lula foi condenado a 26 anos de cadeia por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Sobre as anulações de todas as sentenças, bolsonaristas têm a resposta na ponta da língua: tudo teria sido um grande acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF).