O presidente Jair Bolsonaro cancelou a coletiva de imprensa agendada para a tarde desta quarta-feira, 23, em Davos.
A história transcorreu da seguinte forma:
Durante todos os compromissos da agenda do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, ele é seguido por jornalistas, sem dar qualquer declaração, exceto no dia de sua chegada, em que falou por pouco mais de um minuto no saguão de seu hotel.
É comum que autoridades deem coletivas de imprensa durante sua participação no Fórum Econômico Mundial, ou participem de pequenas reuniões com jornalistas para fazer um balanço da viagem. Há um edifício com salas, equipamentos e todo tipo de infraestrutura para que TVs, rádios, veículos impressos e online exerçam o trabalho de relatar o que é visto e ouvido nos corredores do local. Este ano, foram mais de 3.000 participantes e 600 jornalistas. Mirando a eficiência, as equipes de comunicação do Fórum se antecipam: costuram entrevistas entre jornalistas e fontes antes mesmo de elas serem requisitadas e armam coletivas com os principais destaques de cada edição.
Na semana passada, a organização agendou uma entrevista coletiva supondo que o presidente, como é praxe, quisesse falar. Ao saber do compromisso, Bolsonaro pediu que fosse cancelada. Na terça-feira 22, cedeu e remarcou para hoje, às 13h, horário de Brasília. A assessoria do presidente divulgou a coletiva como sendo uma “declaração” à imprensa, o que significa que não haveria espaço para perguntas. A organização do Fórum não foi avisada sobre esse plano e manteve o evento como “coletiva”.
Por volta de 12h25, Bolsonaro saiu de um encontro com o premiê italiano Giuseppe Conte, em que disse ser um brasileiro “de sangue e coração italiano”. Sorrindo, estava acompanhado de suas duas sombras em Davos: Ernesto Araújo, chanceler, e Filipe Martins, assessor internacional da presidência. Se dirigiu a uma das saídas do Fórum e foi embora.
Alguns assessores do Palácio do Planalto permaneceram no local. Abordados por VEJA, disseram que o presidente estava cansado e iria para o hotel descansar. Questionados sobre a coletiva marcada para 30 minutos depois, disseram não saber se ela se manteria. Em seguida, os jornalistas receberam uma atualização da agenda do presidente via WhatsApp – sem a coletiva. A organização do Fórum não quis detalhar as razões do cancelamento. Apenas afirmou que, se soubesse antes, teria avisado os jornalistas brasileiros e estrangeiros que esperavam no local marcado. A coletiva contaria com a presença dos ministros Sergio Moro, Paulo Guedes e Ernesto Araújo, além de Bolsonaro. Apenas Moro compareceu ao local combinado. Mas não quis dar a entrevista sozinho e partiu sem dar declarações.
O clima entre os organizadores era de consternação. O protocolo raramente é quebrado em Davos. Mas o presidente Bolsonaro, apesar do discurso palatável aos investidores que frequentam Davos, vêm quebrando vários: inadvertidamente posta fotos e vídeos de encontros privados (considerados off the record), não tem tido compromisso com o horário suíço (para um jantar oferecido às 19h30, em que era o homenageado, chegou 20h15), e mobilizou a organização na realização de uma coletiva que não aconteceu. Bolsonaro tem demonstrado preferir evitar questionamentos a mergulhar no aprendizado de lidar com eles. Diante da hecatombe política que se alastra sobre vida de seu filho, Flavio, dar alguma satisfação pública é preferível – e calar-se não afasta o problema.