Era quarta-feira 22 quando o agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro recebeu uma mensagem, pelo telefone, do presidente Jair Bolsonaro. Lacônico, Bolsonaro informou ao auxiliar que trocaria ainda nesta semana a cúpula da Polícia Federal. Desde o segundo semestre de 2019, o presidente estava contrariado com a atuação de Maurício Valeixo à frente da corporação. Menos por eventuais defeitos pontuais, e mais pela resistência do policial de não ceder às pressões políticas de Bolsonaro para travar investigações incômodas.
Ao receber a mensagem, Moro não acusou o golpe. Respondeu, também por mensagem, que no dia seguinte conversaria pessoalmente com o presidente. Naquele momento, disseram interlocutores de Moro a VEJA, a situação já era insustentável e o ministro decidiu entregar o cargo. Moro e Bolsonaro tinham por hábito se reunir para despachos de trabalho todas as quintas-feiras. Na quinta 23, porém, o tom do presidente foi mais duro que o habitual e ele disse a Moro que trocaria Valeixo de qualquer jeito.
Interlocutores do ex-juiz da Lava-Jato informaram a VEJA que, embora Sergio Moro já estivesse há muito contrariado com os desmandos do presidente, a gota d’água para o pedido de demissão foi o fato de Bolsonaro pedir que a Polícia Federal e o ministro da Justiça dessem um jeito de segurar uma investigação que aponta para a participação do vereador Carlos Bolsonaro em um esquema de ataques virtuais a autoridades e propagação de fake news.
Nos últimos dias, Bolsonaro recebeu informações de que o inquérito sigiloso que apura ataques, fake news e ofensas contra autoridades, tocado pelo ministro Alexandre de Moraes no STF, chegou ao vereador Carlos, o filho Zero Dois e apontado como mentor do chamado gabinete do ódio. O presidente tentava cotidianamente receber informações de Maurício Valeixo e era ignorado.
Nem mesmo o fato de Sergio Moro exigir um motivo contundente para a substituição do diretor-geral da PF e o recado de que a queda do chefe da polícia o levaria também a pedir demissão demoveram Bolsonaro.
Valeixo foi exonerado sem o conhecimento de Moro. Na manhã desta sexta-feira, 24, o próprio Sergio Moro pediu demissão. Contava com o apoio irrestrito da esposa, a advogada Rosângela Moro. Disse que começaria a encaixotar objetos no Ministério da Justiça, redigiria seu pedido formal para desembarcar do governo e resumiu: “[Continuo] sempre respeitando o mandamento do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, que é fazer a coisa certa sempre”.