Afastado da presidência do União Brasil, o terceiro maior partido do país e que, este ano, terá mais de 500 milhões de reais de dinheiro público em caixa, o deputado federal Luciano Bivar (PE) acusa o ex-aliado Antônio Rueda, que o sucede no comando da legenda, de tráfico de influência e de anunciar uma suposta sociedade com filhos de ministros de tribunais superiores para conseguir facilidades. As acusações ganharam contornos de batalha depois que uma casa de Rueda e outra da irmã dele, tesoureira do União, foram incendiadas na segunda-feira, 11.
Em entrevista a VEJA, Bivar afirma ter cedido um barco e um imóvel em Miami para supostas traficâncias do ex-aliado e insinua que ex-parceiro, um advogado do ramo de contencioso que se arvorou na política na mesma proporção em que galgou influência junto a figurões de Brasília, colocou um contador de confiança para desviar parte do caixa do partido.
O senhor está sendo alvo de acusações de ameaça, de possível envolvimento nos incêndios na casa do presidente eleito e da tesoureira do partido. O que diz em sua defesa? Todas as acusações são infundadas. Para isso meus advogados as estão refutando. Ele [Rueda] nos traiu. Quando nós fizemos a fusão [com o Democratas em 2022], ele e a irmã passaram para o outro lado. Eles fazem e acontecem. Eu nem sei onde eu estava [no momento dos incêndios] porque isso não tem nada a ver. Isso é mais uma ilação, um factoide. Se fizerem alguma ilação direta vou entrar com uma ação de danos morais contra quem quer que seja.
Na briga o senhor acusou a esposa de Antônio Rueda de roubo. Minha confiança nele era tamanha que ele usava do barco que eu tinha fora, em Miami, para lobby. Ele faz tráfico de influência para angariar clientes para o escritório dele. U usava também meu apartamento em Miami para lobby. Eu dei o segredo do cofre para ele e ele passou para a mulher dele, que limpou meu cofre. Ele também diz que é sócio de filho de ministro e vai vendendo esse negócio. Não sei quem são as pessoas [os filhos de ministros] mas ele diz isso para todo mundo.
Nesse embate emergiram histórias antigas como a de que o nome do senhor apareceu ligado à morte de uma massagista nos anos de 1980. Eu nunca fui citado. Nunca fui nada. O Caiado, por exemplo, tem uma ação contra ele há três anos na Justiça de Goiás. Ele mandou matar o Fábio Escobar. (Ex-coordenador da campanha de Ronaldo Caiado na cidade de Anápolis, Fábio Escobar foi morto a tiros em 2021. A Polícia Civil concluiu que o ex-presidente do atual União Brasil em Anápolis, Carlos César Savastano Toledo, foi o autor intelectual do crime)
Dizem que o rompimento entre o senhor e o Rueda tem como pano de fundo os recursos dos fundos eleitoral e partidário? Na última eleição eu deleguei a ele administrar 1 bilhão de reais. E nesse 1 bilhão de reais ele pediu para eu dar uma procuração para o contador dele dar mais celeridade. Assinavam a tesoureira, que é irmã dele, e eu, o presidente. Depois vim a descobrir que o nosso contador é o contador do escritório dele. Isso quando ele distribuiu todo esse dinheiro e angariou todos esses apoios políticos.
A Executiva se reuniu para discutir sua expulsão do partido e já se decidiu pelo afastamento. Ele tem a maioria. Eles administrativamente se respaldam nessa maioria. Como estou em um Estado de Direito e acredito nas instituições do meu país, vou respeitar. Se meus questionamentos forem infundados, paciência. Se não forem, vou até a defesa do Direito. Como diz Júlio César em Roma, a dor da punhalada é menor do que a dor de ver quem o apunhalou.
Em nota a VEJA, Antônio Rueda disse que “as acusações do deputado federal Luciano Bivar são absurdas e fantasiosas, não guardam qualquer lastro na realidade”. “São ataques covardes contra a minha família com o objetivo espúrio de tentar desviar o foco das ameaças e dos graves atentados ocorridos em nossas residências no litoral de Pernambuco. Fomos vítimas de dois incêndios criminosos e esperamos que as autoridades competentes encontrem, o mais rápido possível, os autores desses atos que atentam contra a nossa integridade e contra a própria democracia”, declarou.
Também em nota, Ronaldo Caiado afirmou que “Luciano Bivar mente de forma despudorada e criminosa”. “Seu desespero substituiu a razão e fez sobressair sua falta de caráter. Não há processo judicial contra mim. O caso que ele cita é investigado pela Polícia Civil de Goiás, que já efetuou dez prisões. Diante da desfaçatez e do delírio criminoso de Bivar, tomarei as devidas providências. Ele que explique judicialmente sua afirmação; do contrário, que responda por tudo que falou”, completou.