Às vésperas do marco fiscal, ‘enrolação’ de Padilha irrita parlamentares
Demora na liberação de cargos e emendas aumenta a animosidade para a votação da proposta que vai substituir o teto de gastos
Enquanto o governo se prepara para enviar para a Câmara a proposta que vai estabelecer novas regras fiscais no país, deputados da base governista não escondem a insatisfação com o articulador político do governo, o ministro Alexandre Padilha.
Nos últimos dias, cresceram as reclamações sobre as promessas não cumpridas pelo chefe da Secretaria de Relações Institucionais. Cargos nos segundo e terceiro escalões, assim como a liberação das emendas, continuam travados. As duas ferramentas, que envolvem dinheiro e influência, compõem uma das principais formas de arregimentar e manter aliados no Congresso.
A demora já é tamanha que os congressistas passaram a fazer troça com a espera. Um parlamentar que levou a Padilha uma série de pedidos no início do mês ouviu do ministro – mais uma vez – que as demandas vão ser destravadas em breve. “Mas não vão, né? Eu saí muito decepcionado com o ‘enrolation’. É ‘enrolation’ mesmo”, disse.
Um outro parlamentar já compara a situação a um processo seletivo. “Eles pegam o deputado novato, abrem o sistema para se cadastrar, e ele o faz todo feliz, naquela energia de uma inscrição para o Big Brother. A turma se inscreve achando que vai dar alguma coisa, mas não dá em nada. O povo mais tarimbado sabe que estão enrolando”, diz um líder partidário.
A grita acontece até mesmo dentro do PT. Na última segunda-feira, 10, um grupo que integra a Executiva da legenda, da qual fazem parte nomes como Gleisi Hoffmann, Jilmar Tatto e José Guimarães, se reuniu para fazer um balanço sobre o governo e o partido. No encontro, sobraram críticas sobre como Padilha vem falhando ao segurar as emendas e ao fazer acordos “no varejo”, sem conseguir amarrar o apoio das cúpulas partidárias. Além disso, eles próprios relatam dificuldades em encaminhar os pedidos com o ministro.
“Uma insatisfação que acontece em um momento se resolve logo, mas uma insatisfação que é repetida com a expectativa de que vai ser resolvida, e não é, gera uma confusão maior. Está-se criando um desgaste desnecessário”, diz um petista que participou do encontro.
Ainda com uma base instável no Congresso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faz os últimos ajustes antes de enviar o projeto do arcabouço fiscal. Como mostrou reportagem de VEJA, a proposta deve enfrentar resistência entre os parlamentares – e a “enrolação” do governo, afirmam, em nada ajuda a melhorar o ambiente político.