Miami é um dos destinos no exterior preferidos daqueles que estão descontentes com o Brasil. O fluxo de imigrantes brasileiros que chegam à cidade cresceu muito nos últimos dez anos, especialmente desde 2014, quando a recessão econômica atingiu o país.
Atualmente, segundo o embaixador Adalnio Senna Ganem, cônsul-geral em Miami, existem por volta de 200.000 brasileiros vivendo na metrópole. Em toda a Flórida são entre 350.000 e 400.000, a maior comunidade fora do Brasil. De acordo com o diplomata, o fluxo migratório de brasileiros dos últimos anos contribuiu muito para o desenvolvimento econômico, cultural e científico da cidade, já que muitos empreendedores, profissionais liberais, artistas, professores universitários, médicos e outros trabalhadores qualificados se fixaram na cidade em busca de uma nova vida.
VEJA conversou com oito pessoas que decidiram trocar o Brasil pela segurança, conforto e oportunidade de crescimento oferecidos pela cidade, centro comercial da Flórida. Longe da crise, esses brasileiros não querem nada menos do que uma mudança completa na política brasileira. Para as eleições de outubro, os desejos passam pelo fim da corrupção, pela melhora na segurança pública e na economia. E todos têm na ponta da língua: “PT, não!”.
Apesar da certeza em relação ao partido de esquerda, muitos ainda não escolheram em quem votar e criticam os planos de governo dos mais fortes pré-candidatos. É o caso da advogada tributarista Juliana Faria de Oliveira, de 35 anos, que afirma que todos ainda “estão devendo muito em relação a propostas e planos de governo”.
Juliana se mudou para os Estados Unidos em 2016 para fazer um mestrado e decidiu ficar por lá. Em Miami, trabalha em uma empresa de contabilidade e consultoria tributária e atende muitos imigrantes brasileiros. “Mas independentemente de quem for o candidato, PT, não”, argumenta. “Após anos do partido, o país está um caos.”
Elaine dos Santos, 36, também é consultora tributária e decidiu trocar o Rio de Janeiro por Miami há nove anos, em busca de mais segurança. “Sou de direita e o principal candidato da vertente não parece tão qualificado”, diz sobre Jair Bolsonaro. Ainda assim, a brasileira afirma que tende a votar no pré-candidato do PSL, por falta de outras opções.
Defende ainda uma maior participação da Secretaria de Segurança na tomada de decisões políticas e a diminuição da maioridade penal no Brasil. “Aqui nos Estados Unidos nem existe isso”, diz.
Natural de Belo Horizonte (MG), Allan Araújo, de 39 anos, é “international liaison” (consultor internacional de vendas) em uma companhia de negócios imobiliários. Formado em administração de empresas, ele havia escolhido Flávio Rocha (PRB), como seu candidato, pois acredita que o Brasil precisa de alguém com visão empreendedora, comprometimento e preparo para governar. Além disso, entende que uma reforma tributária é necessária, assim como mudanças nas áreas trabalhista e na Previdência, porém “não como vem sendo feito até agora”. O empresário, no entanto, desistiu de concorrer à Presidência e deixou Araújo sem certeza de um outro candidato. Talvez, Geraldo Alckmin (PSDB).
O consultor garante que nunca votará no PT. “Os petistas são horrorosos”, afirma. “Só se eu fosse cego, surdo e mudo votaria no partido”, completa.
O paulista Ivan Garcez, de 60 anos, também rejeita o Partido dos Trabalhadores. “As opções são tão ruins que penso que seria melhor se os militares pudessem tomar conta do país”, considera. “Mas eles também parecem estar entregues à corrupção. Vai levar muito tempo para as coisas começarem a se aprumar”, completa ele, que mora há 23 anos em Miami após emendar uma faculdade em um mestrado. Hoje, administra uma empresa de logística internacional.
Diante de sua experiência nos Estados Unidos, acredita que o Brasil precisa de mais investimento no ensino superior. Apesar dos laços com seu país natal, afirma que vai justificar o voto.
A empresária Priscila Sacramento, 40 anos, também enxerga a educação como uma das prioridades para o futuro do país. “Falta investimento nos professores, e educação é a base para uma melhora em muitas outras coisas”, diz. “Escola boa nos Estados Unidos é escola pública. E todo mundo tem acesso.” Entretanto, a brasileira é contra propostas que encorajam alunos mais ricos a pagarem por cursos em universidades públicas.
Há catorze anos em Miami, Priscila gerencia uma empresa de personal shopper e concierge e atende muitos brasileiros de alta renda, que passam férias na cidade. Ela conta que é muito engajada com a política brasileira, apesar da distância. “Assino todas as petições contra a corrupção”, diz. “Eu me visto de verde e amarelo para alguns movimentos, participei de algumas manifestações aqui mesmo em Miami.”
Natural de São José dos Campos, interior de São Paulo, Sergio Arena, de 41 anos, mora há vinte em Miami, onde estudou administração e hoje trabalha como analista em uma empresa de equipamentos médicos. Ele critica a falta de neutralidade e moderação dos pré-candidatos apresentados até agora. “O maior dano que a política causou no Brasil foi a divisão entre direita e esquerda”, diz.
“A eleição é a única forma que temos para mudar a atual situação do país e eleger somente pessoas com a ficha limpa”, afirma ele, que rejeita todos os grandes partidos. “Mas sei que isso é uma utopia sem tamanho”, reconhece, admitindo que serão necessários inúmeros ciclos eleitorais para conquistar esse objetivo.