Todos os dias, das 10h às 12h, o tenente-coronel Mauro Cid deixa a sua cela de 20 metros quadrados, localizada dentro do Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, para se dedicar aos exercícios. O período de banho de sol costuma ser todo utilizado para uma corrida dentro de um circuito interno do quartel e também para a musculação, com pesos à disposição. A jornada é supervisionada por uma equipe de guarda.
Esse é tido como um dos momentos mais sagrados de Cid, que durante seu período na academia militar se destacava nas atividades físicas, principalmente na natação, e também é tratado por quem o acompanha como um jeito de manter a saúde mental em dia. Ex-ajudante de ordens e um arquivo dos segredos de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel está preso preventivamente desde o dia 3 de maio por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e não tem perspectiva de deixar o local.
Após as atividades no banho de sol, Cid volta para a cela, onde almoça a mesma comida servida aos demais militares do quartel – ao todo, são quatro refeições diárias. O espaço é confortável: tem uma cama, frigobar, televisão, chuveiro quente, mesa de apoio e armário, além de uma janela externa gradeada. Há uma equipe destacada para fazer a segurança do local 24 horas do dia.
Às terças, quintas e domingos, logo após o almoço, começa o horário de visitas, que vai das 13h às 17h. A movimentação tem sido intensa por lá, o que, como mostrou reportagem de VEJA, incomodou o ministro Alexandre de Moraes. Na última semana, ele passou a controlar o entra e sai no quartel após solicitar a lista completa dos visitantes – que, entre familiares, amigos, militares de alta patente e pessoas próximas a Bolsonaro, ultrapassava a quantidade de 70 pessoas. O documento é mantido sob sigilo, mas alguns nomes foram revelados pela reportagem. Quem o visita afirma que Cid costuma estar sempre fardado.
Além disso, a visita íntima é proibida tanto na carceragem quanto em qualquer outro ambiente do aquartelamento, conforme consta em norma definida pelo Exército. Às quartas-feiras, a pedido do próprio militar, Mauro Cid tem recebido atendimento psicológico e também a visita de um líder evangélico. O Exército ainda disponibiliza, quando necessário, um médico.
Cid foi preso sob a suspeita de integrar uma organização criminosa que burlou o sistema do Ministério da Saúde para emitir certificados falsos de vacinação contra a Covid-19. Na última semana, a situação ficou mais delicada após VEJA revelar que uma varredura no telefone dele encontrou uma série de documentos, estudos e até um detalhado plano que previa a anulação das eleições, o afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a decretação de uma intervenção militar.
O Exército ainda abriga outros dois militares, presos na mesma operação: o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, que também atuou na ajudância de ordens durante o governo Bolsonaro, e o ex-assessor da Presidência Sérgio Cordeiro. Os três estão instalados em batalhões diferentes e, portanto, não têm contato entre si.