Ligado à University College de Londres e articulista do jornal The Washington Post, o cientista político americano Brian Klaas é um dos maiores estudiosos do mundo sobre democracia e, em entrevista à VEJA, defende a ideia de que o atual clima de polarização no Brasil só será debelado com reformas capazes de arejar o poder e afastar dele os maus políticos.
Muitos que não engoliam Lula agora o veem como opção para derrotar Bolsonaro. Como o senhor analisa esse cenário? Os eleitores tendem a perdoar os pecados das pessoas que estão do mesmo lado que eles — isso é chamado de “polarização negativa”, quando só se quer derrotar o “outro lado”. Também há o que os filósofos políticos chamam de problema das mãos sujas: em sistemas políticos debilitados, como é o caso do Brasil, não há anjos. Não se chega aos níveis mais altos jogando um jogo limpo. Isso é horrível de constatar, mas provavelmente é verdade.
Considerando o alto nível de polarização da campanha no país, quem vencer as eleições terá condições de governar? A solução não está nas mãos de uma pessoa: deve vir do sistema, por meio de mecanismos que permitam arejar o poder e até permitir a substituição célere dos maus políticos. Esse é um projeto de longo prazo e, por isso, não é muito sedutor para os eleitores: parece um caminho abstrato e árduo. Mas é um esforço que compensa. No caso do Brasil, a reforma sistêmica é a única maneira de o país sair dessa confusão no longo prazo.
As pessoas em geral parecem resignadas com a deterioração da política. Como mudar esse sentimento? Fiz uma boa quantidade de pesquisa de campo em países que perderam a democracia ou se tornaram ditaduras completas, e praticamente todo mundo que ouvi disse que gostaria de ter percebido de antemão que teria sido possível impedir isso. Proteger a democracia é mil vezes mais fácil do que reconstruí-la.
Há risco real de retrocesso no Brasil? Se um país tem uma democracia jovem e frágil, eleger o líder errado é muito perigoso. Isso significa que, a cada eleição, em lugares como o Brasil, acertar a escolha se torna uma necessidade dramática.
O senhor se considera otimista ou pessimista sobre os rumos da democracia? Sou profundamente pessimista no curto prazo e otimista no longo prazo. Em países como o Brasil, todos os desvios da política são difíceis de ser revertidos no curto prazo. Mas estou convencido de que podemos mudar as democracias para torná-las mais próximas das pessoas e, assim, fortalecê-las.
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Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813