Com o avanço das investigações que colocaram Jair Bolsonaro no centro de acusações de que incorporou ilegalmente joias e relógios dados ao governo brasileiro, a nova direção da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) fez uma incursão no escritório de representação do órgão em Miami em busca de eventuais deslizes do então gerente Mauro César Lourena Cid. General da reserva, ele é pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens que, em um acordo de colaboração com a Justiça, implicou o ex-presidente no centro de uma trama supostamente golpista que buscava reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022.
O objetivo da varredura era avaliar se Lourena Cid, que àquela altura já tinha entrado na mira da Polícia Federal por ter feito parte da operação de venda de presentes oficiais recebidos pelo Estado brasileiro, havia aparelhado a Apex para fins privados. Em uma conta bancária do general, investigadores da Polícia Federal detectaram um depósito de 68.000 dólares da Precision Watches pela venda de um relógio Rolex e de um Patek Philippe – este último até hoje com o paradeiro desconhecido.
Conforme revelou VEJA, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid disse à PF que entregou “em mãos” a Jair Bolsonaro o dinheiro dos dois relógios, vendidos a pretexto de reforçar a vida financeira do capitão, que àquela época tinha de pagar várias multas, boa parte por não ter usado máscaras durante a pandemia de Covid.
No governo Bolsonaro, 25 militares de diferentes patentes passaram pela agência de promoção de empresas brasileiras. Até o médico cardiologista na Presidência, Ricardo Camarinha, foi abrigado no órgão a pedido do então presidente.
Na incursão, a atual direção da Apex concluiu que a gerência em Miami havia se tornado uma espécie de entreposto de recepção a Bolsonaro e um cabide de emprego para aliados como o general. Lourena Cid recebia 11.000 dólares mensais, auxílio moradia e plano de saúde pagos pela ApexBrasil. Camarinha estava lotado em Orlando, a mais de 380 km de Miami.