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A disputa caseira que virou prioridade para o poderoso Valdemar Costa Neto

Presidente do maior partido do país concilia as ambições eleitorais da direita com a tentativa de vencer em seu berço político em São Paulo

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 ago 2024, 15h24 - Publicado em 24 ago 2024, 08h00
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  • Um dos mais poderosos caciques políticos do país, chefe do maior partido no Congresso (o PL), dono do mais polpudo cofre na atual campanha eleitoral (mais de 1 bilhão de reais) e organizador dos principais planos da direita para 2024 e 2026, Valdemar Costa Neto tem encontrado tempo e dispensado esforços em um plano paroquial: conquistar a prefeitura de Mogi das Cruzes, cidade da Grande São Paulo com pouco mais de 450 000 habitantes, seu berço eleitoral e que durante quatro mandatos foi governada pelo seu pai, Waldemar Costa Filho. Após a morte do patriarca, em 2001, o filho, que nunca tentou a prefeitura e decidiu priorizar a carreira em Brasília (foi eleito deputado seis vezes), viu a cidade cair nas mãos de outros grupos locais. Agora, resolveu reconquistar o seu reduto eleitoral.

    Mesmo com uma candidata a prefeita que nunca disputou eleição, a pedagoga Mara Bertaiolli (PL), Valdemar reuniu na chapa mais cinco grandes partidos: União Brasil, PSD, MDB, PP e Republicanos. Mara é esposa de um político influente na cidade: Marco Bertaiolli, ex-deputado, ex-prefeito (2009 a 2016) e agora conselheiro do Tribunal de Contas do Estado indicado pelo governador Tarcísio de Freitas. Pesquisa divulgada no dia 14 pelo Instituto Opinião mostra que ela tem 35,3% das intenções de voto, à frente do prefeito, Caio Cunha (Podemos), que tem 22,8%. No lançamento da chapa, no domingo 18, estavam presentes Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, e Antonio Brito, deputado do PSD-BA, um dos cotados para comandar a Câmara a partir de 2025.

    LEGADO - Pai e filho: trajetória da família vai da ditadura ao bolsonarismo
    LEGADO - Pai e filho: trajetória da família vai da ditadura ao bolsonarismo (@valdemarcostaoficial/Instagram)

    Os caciques nacionais não escondem a prioridade dada à cidade. Kassab, que emplacou Téo Cusatis (PSD)como vice, se vangloria. “Nenhuma cidade terá o apoio, a unidade e a aliança que Mara e Téo construíram”, disse. “Somos o maior partido do país, temos a maior bancada da Câmara, quem não ia querer fazer aliança conosco? Antonio Rueda, Baleia Rossi (presidentes do União Brasil e MDB, respectivamente), todos quiseram compor, até porque isso envolve parcerias em outras cidades”, afirma Valdemar. Cacique de partido bilionário, ele não diz quanto pretende investir na candidatura, mas o limite de gastos previsto para o primeiro turno é de 2 milhões de reais.

    O enclave político de Waldemar e Valdemar começou a ser construído em 1940. Foi nessa época que o pai chegou à cidade para trabalhar em uma empresa de mineração. Por lá, fez fama e fortuna ao tornar-se um influente empresário do setor de transportes. Em 1958, entrou para a conservadora UDN e migrou, em 1966, para a Arena, sigla que sustentava a ditadura militar. Foi pela legenda que levou a prefeitura pela primeira vez, em 1968. Já Valdemar era conhecido como “Boy” na juventude, em parte pelo estilo de vida boêmio. O cacique do PL mora até hoje em Mogi das Cruzes — sua maior ausência foi para passar onze meses no presídio da Papuda, no DF, entre 2013 e 2014, após ser condenado no mensalão. Ele voltaria a ser preso em fevereiro deste ano, por porte ilegal de arma, em investigação sobre a tentativa de golpe em 2023. Uma das dificuldades na eleição será superar a rejeição do eleitor ao “Boy” após o envolvimento em tantos episódios polêmicos — até por isso, ele descarta participar de corpo a corpo nas ruas.

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    arte Waldemar

    A guerra pelo controle da cidade vem sendo travada há tempos. Em março, o prefeito estava de malas prontas para o PP, uma sigla maior, mas teve a ideia barrada pela movimentação de Valdemar nos bastidores. Ficou no Podemos, fez aliança com siglas médias como PSB e PSDB e, na convenção, mandou recado ao cacique do PL. “Nossos adversários acreditam na força do dinheiro para ganhar a eleição, mas nós vamos mostrar para eles como se ganha: sola de sapato e amor pela cidade”, afirmou.

    O interesse pelo seu reduto não é uma exclusividade de Valdemar. Outros caciques tentam conciliar planos nacionais com objetivos mais paroquiais. Um exemplo é Lula, que decidiu fazer de tudo para, com Luiz Fernando Teixeira (PT), reconquistar São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde morou e iniciou a sua carreira política. Outro é Arthur Lira (PP-AL), o todo-poderoso presidente da Câmara, empenhado em reeleger o pai, Benedito de Lira, na pequena cidade de Barra de São Miguel, polo turístico no litoral de Alagoas. Na política, ao que parece, ter muito poder no plano nacional é bom, claro, mas ser consagrado em casa também tem seu valor.

    Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907

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