Jair Bolsonaro já enviou ao meio político o recado de que, em 2022, considera a hipótese de não reeditar a chapa que venceu as eleições de 2018. Pensa em testar um novo perfil de candidato a vice. Talvez um evangélico, talvez uma mulher, talvez alguém da Região Nordeste. O ideal, segundo ele, seria ter alguém que se enquadrasse nesses três requisitos — uma evangélica nordestina, por exemplo. Ao acenar a possibilidade de ter uma nova parceria, o presidente lança mão de uma estratégia para manter determinados grupos políticos na órbita do Planalto, sem, com isso, escantear completamente Hamilton Mourão. Bolsonaro guarda uma mágoa muito grande do general. Diz que o vice, por ser um militar de patente mais alta, sempre resistiu a reconhecer sua autoridade, além de ter conspirado contra ele no início do governo. O resultado prático dessa iniciativa a dois anos do pleito é que já há uma fila de interessados na vaga.
Entre os evangélicos, a disputa envolve candidatos a candidato e candidatos a padrinho. O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, responsável pela filiação ao Republicanos de dois dos filhos do presidente, o senador Flávio e o vereador Carlos, quer ter voz ativa na indicação. O deputado Marco Feliciano defende a ideia de que os evangélicos, que representam um terço da população brasileira, encabecem a lista. O nome preferencial? O dele mesmo. “Temos direito a essa representatividade. Sou um soldado a serviço do meu país e do meu presidente”, disse o parlamentar a VEJA. A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também aparece na lista dos potenciais vices de Bolsonaro em 2022. Ela só não é nordestina. A menção ao nome da ministra, aliás, provocou as primeiras rusgas entre os evangélicos. Dias atrás, Feliciano espalhou o link de uma reportagem em que uma ex-assessora da ministra afirmava haver irregularidade em convênios firmados pela pasta que ela comanda. “Sabe se isso procede?”, questionou o deputado num WhatsApp despachado para toda a sua lista de contatos. A mensagem, é claro, foi replicada, replicada, replicada… Assessores da ministra garantem que, sim, ela tem planos políticos, mas pensa em disputar uma vaga no Senado.
Fora do universo religioso, o nome que desponta como candidato a vice é o do atual ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Ele nasceu no Rio Grande do Norte, mas não é evangélico. Apontado como o responsável pelo avanço da popularidade de Bolsonaro no Nordeste, o ex-deputado tem ciceroneado o presidente na região, participando de inauguração de obras e definido estratégias de distribuição de recursos no outrora berço lulista. Recentemente, durante encontros com empresários de seu estado, Marinho demonstrou abertamente o desejo de trabalhar para ser vice de Bolsonaro. Embora exista essa movimentação, ainda é cedo para dizer que Hamilton Mourão está fora do páreo. Conforme VEJA mostrou no início do mês, o general tem demonstrado apreço pela política e se diz “precipitadamente pronto” para tentar a reeleição, apostando que os atritos com Bolsonaro fazem parte do passado. O vice minimiza as divergências. Foram apenas “ruídos que já foram esquecidos”, ele jura. Sem a garantia de que terá a cadeira mantida para 2022, o general vem alçando voo-solo na política. Neste mês, ele gravou vídeos e tirou fotos para cerca de 300 candidatos a prefeito do PRTB, o seu partido, que viajaram até Brasília em busca de uma imagem ao lado do vice-presidente. “Ele pode ser senador, vice ou, quem sabe, disputar o Planalto”, diz Levy Fidelix, presidente do PRTB, o partido do vice. O dirigente acrescenta: “Mourão é o nosso Pelé”. Por enquanto, Pelé está escalado apenas para o banco de reservas.
Publicado em VEJA de 30 de setembro de 2020, edição nº 2706