Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

A cartada final de Joesley para salvar sua delação no STF

Em alegações finais, empresário bate pesado na PGR, a quem acusa de fazer meras ilações

Por Daniel Pereira, Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 Maio 2020, 19h50 - Publicado em 21 Maio 2020, 18h47
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A defesa do empresário Joesley Batista, dono do grupo J&F, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira 21, que rejeite o pedido de rescisão de sua delação premiada, apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Em suas alegações finais, assinadas por seis advogados de três escritórios diferentes, Joesley rechaça as omissões de que foi acusado e diz que a PGR busca uma espécie de “enriquecimento ilícito” ao defender que as provas apresentadas por ele sejam consideradas válidas mesmo com a eventual rescisão de seu acordo de colaboração. “O MPF pretende manter tão somente (…) a vantagem pactuada em seu favor e a correspectiva desvantagem para os colaboradores. Pretende tornar gratuito um negócio oneroso. Tal conduta configura, inclusive, uma estranha variação de ‘enriquecimento ilícito’”, dizem os advogados do empresário.

    Desde a homologação da delação pelo STF, em maio de 2017, Joesley prestou dezenas de depoimentos. Seus defensores lembram que muitos deles ocorreram após o pedido de rescisão — ocasiões em que o empresário “foi ouvido na plena condição jurídica de colaborador, sem qualquer ressalva” — e resultaram em operações policiais, como a que prendeu o coronel João Baptista Lima, suspeito de ser laranja do ex-presidente Michel Temer e beneficiário de um esquema de corrupção no Porto de Santos. “Não houvesse mais confiança em seu depoimento, fosse Joesley Batista este ser ‘sem ética’, ‘amoral’, que não cessou o seu ‘modo de vida criminoso’ e não arrefeceu o ‘seu ímpeto por lucro fácil’, como as alegações finais da PGR o descrevem, não teria ele sido arrolado tantas vezes como testemunha pelo próprio Ministério Público, mesmo após o pedido rescisório”, registram os advogados. “No mínimo é estranho esse comportamento da PGR quando usa o colaborador quando lhe interessa e o menospreza em suas alegações finais”.

    O pedido de rescisão das delações de executivos do grupo J&F foi feito pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em setembro de 2017, e ratificado por seus sucessores — Raquel Dodge e Augusto Aras, atual ocupante do cargo. Na ocasião, Janot alegou que Joesley não informou o Ministério Público Federal sobre a “conduta ilícita” de Marcello Miller, que o teria ajudado na elaboração do acordo quando ainda era procurador da República. Ao figurar nos dois lados do balcão, Miller teria incorrido em ato de improbidade administrativa e corrupção passiva, segundo Janot. Nas 170 páginas de alegações finais, a defesa de Joesley registra que a Justiça trancou uma ação penal proposta contra Miller e lista depoimentos de procuradores envolvidos no caso — inclusive do próprio Janot — que absolvem Miller. “Não há fato ilícito nenhum, como posteriormente reconhecido pelo próprio ex-PGR e demais membros do Ministério Público que atuaram no caso”.

    Ao pedir a rescisão, Janot também alegou que Joesley agiu de má-fé e tentou proteger o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), ao omitir que ele recebeu 500 000 reais para votar contra o impeachment de Dilma Rousseff. Segundo a defesa, não só não houve tal omissão como todos os fatos relativos ao parlamentar foram apresentados dentro do prazo acordado com a PGR. “O que se verifica é a violação aos preceitos da boa-fé e da lealdade não pelos colaboradores, mas pelo Ministério Público”, diz a defesa de Joesley nas alegações finais. Um dos autores da peça, o advogado André Callegari resumiu assim o caso a VEJA: “O pedido da PGR tem meras ilações. É injusto e fictício, enquanto as provas trazidas pela defesa demonstram o factoide criado por Janot ao pedir a rescisão”. As colaborações dos executivos do grupo J&F implicaram presidentes da República, ministros, governadores e parlamentares. No total, foram apresentados 116 anexos e 250 fatos ilícitos.

    Continua após a publicidade

    Os delatores participaram de ações controladas. Na mais notória delas, Joesley gravou Michel Temer no Palácio do Jaburu, quando o então presidente proferiu a famosa frase “Tem que manter isso aí, viu”. O empresário também gravou o então senador Aécio Neves, do PSDB, lhe pedindo dois milhões de reais. Em contrapartida, a PGR concedeu o perdão aos delatores, que será derrubado caso o Supremo aprove a rescisão. O julgamento do caso está marcado para o dia 17 de junho. Até lá, PGR e delatores ainda podem chegar a um acordo, o que levaria ao arquivamento do pedido de rescisão. Conversas nesse sentido foram travadas recentemente, mas não prosperaram. Motivo: os delatores insistem que contaram tudo o que sabiam e negam que tenham omitido fatos importantes. Por isso, não aceitam a aplicação de multas adicionais e de uma pena de prisão em regime fechado para Joesley, como quer a PGR.  

    O empresário já ficou seis meses presos e não aceita voltar para a cadeia. Seus advogados dizem que não há que se falar em pena para Joesley se ele não foi condenado em nenhum processo pela Justiça. A tendência é que o impasse entre as partes continue até o dia do julgamento, quando caberá ao Supremo arbitrar a questão. No tribunal, há vozes notoriamente contrárias aos delatores. Entre elas, a do ministro Gilmar Mendes, que já chamou Joesley de gangster. “A gente jamais pode ficar com medo de ser julgado pelo STF. As provas apresentadas pela defesa nos autos detonam a causa de pedir (a rescisão) da PGR”, declara Callegari. “Confiar no Supremo é algo que se impõe ao advogado e ao cidadão. Não achamos jamais que o Supremo se curvará a pressões políticas”, acrescenta. Se o STF decidir pela rescisão, Joesley provavelmente responderá a dezenas de ações na Justiça, que podem lhe render anos de prisão em condenações. Já os políticos delatados provavelmente pedirão a anulação das provas apresentadas contra eles.  

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.