Em uma viagem surpresa, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, desembarcou no início da noite deste sábado (horário local), 20, em Hiroshima, no Japão, para encontrar aliados da cúpula dos líderes do G7, grupo que reúne as sete maiores economias do mundo e convidados, como o Brasil e a Índia. Entre as reuniões bilaterais solicitadas pelo líder ucraniano está um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pedido acontece uma semana após o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, estar com Zelensky em Kiev, na Ucrânia.
Até o momento, o encontro entre Lula e o presidente ucraniano não está confirmado. Na agenda divulgada pelo governo brasileiro para este domingo, último dia de atividades do evento do G7 em Hiroshima, não há nenhuma menção a possível reunião. De acordo com fontes que acompanham de perto a cúpula dos países mais ricos do planeta, o pedido de Zelensky deixou o governo brasileiro sob pressão. E que o presidente ainda estaria em dúvida sobre aceitar ou não o pedido e o peso que isso teria no cenário internacional. Lula vem tentando assumir uma postura mais neutra nas últimas semanas com relação à Guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022 com a invasão russa.
No mês passado, entre os vários temas que abordou em sua viagem à China, Lula discutiu a proposta de cessar-fogo do presidente Xi Jinping, que congelaria as tropas russas no local. O presidente ucraniano, no entanto, se mostrou refratário a qualquer medida que não seja a retirada completa das forças russas, mesma posição adotada por líderes do G7. Após a visita de Celso Amorim à Kiev, o líder ucraniano afirmou ter discutido a “possibilidade de realizar uma cúpula Ucrânia-América Latina” e que esperava receber o presidente brasileiro no seu país para continuar o diálogo. Lula, que tem defendido que um grupo de nações lidere uma saída negociada para o fim dos conflitos, já afirmou, porém, que não planeja visitar nem a Rússia nem a Ucrânia enquanto não acabar a guerra.
Entre os encontros que Zelensky teve durante o G7, ainda neste sábado, foi com o presidente da França, Emmanuel Macron. Ao comentar a presença do líder ucraniano no Japão, Macron disse que ela “pode ser uma virada de jogo”. Comentou ainda que a ida dele ao evento é uma “oportunidade única para expressar sua situação, transmitir sua mensagem e compartilhar sua visão”. Zelensky ainda teve um encontro bilateral com o primeiro-ministro da Índia, Narenda Modi. Em suas redes sociais disse ter apresentado “em detalhe a fórmula ucraniana de paz e pedido à Índia para se juntar à sua implementação”.
O desembarque de surpresa do presidente da Ucrânia a Hiroshima tirou o foco, momentaneamente do pronunciamento que ocorria na cúpula do G7. Sua chegada, transmitida ao vivo pela televisão, aconteceu na mesma hora em que o grupo criticava a ‘coerção econômica’ chinesa. Logo ao pisar em solo japonês, Zelensky também divulgou uma mensagem no Twitter mencionando “reuniões importantes com parceiros e amigos da Ucrânia”. Depois reverenciou “a decisão histórica dos Estados Unidos e do presidente (Joe Biden) de apoiar uma coalizão internacional de caças”. Uma clara referência à liberação por aquele país do uso do jato militar F-16 pela Ucrânia.
Ainda sem tornar pública sua decisão sobre o pedido de reunião bilateral pelo líder ucraniano, o presidente Lula encerrou sua agenda oficial neste sábado participando de um jantar oferecido pelo primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, aos chefes de estado presentes na cúpula do G7. Antes, porém, teve uma reunião com o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, no qual conversaram sobre a construção de caminhos para a reconstituição da paz na Ucrânia e a agenda ambiental. No encontro, ainda firmaram a realização da segunda edição das Consultas Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha, prevista para 4 de dezembro, em Berlim.
O evento consiste em encontros bianuais com o intuito de avaliar e promover parcerias, identificar campos para cooperação e aprofundar o diálogo sobre temas da agenda global. Em uma postagem nas redes sociais, Lula escreveu que foi um prazer reencontrar Scholz. “Já estivemos juntos este ano no Brasil, e agora, no Japão, reafirmamos a retomada das boas relações entre nossos países, com diálogo e cooperação”.
Ainda neste segundo dia de encontro das sete maiores potências econômicas do mundo, na qual o Brasil é um dos oito países convidados, Lula participou de duas reuniões com lideranças de outros 14 países e da União Europeia, além de reuniões bilaterais com o primeiro-ministro Kishida; com o presidente da Indonésia, Joko Widodo; com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e com o presidente francês, Emmanuel Macron. Para o domingo, 21, a agenda de Lula prevê mais encontros bilaterais, entre os quais com os primeiros-ministros do Canadá, Justin Trudeau, e da Índia, Narendra Modi. Depois, deve estar com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.