A consagração já era mais do que esperada e foi ainda mais retumbante do que o previsto. No 20º Congresso do Partido Comunista da China, o todo-poderoso presidente Xi Jinping recebeu um inédito terceiro mandato — o que lhe garante ao menos quinze anos de poder, com possível extensão para vinte — e firmou-se como líder absoluto da potência que ele quer alçar a maior e mais influente do mundo. Menos previsível foi o gesto seguinte, na linha do vencedor que, ainda por cima, tripudia. No palco do Grande Salão do Povo — de onde, no meio do Congresso, o antecessor Hu Jintao foi retirado por seguranças sem nenhuma explicação oficial (a imprensa falou em mal súbito) —, Xi fez questão de apresentar, um a um, os integrantes do novo Comitê Permanente do Politburo, órgão máximo do partido. E são todos fiéis aliados escolhidos a dedo. Além de garantir acólitos no círculo governante, ele aprovou pessoalmente os responsáveis pela segurança interna, os comandantes militares, os ideólogos e os principais tecnocratas, preparando o terreno para fazer da China — de preferência, sem um pingo de resistência interna — a superpotência militar e tecnológica que ambiciona, sob o controle inflexível do PCC. Xi é um autocrata intransigente e ditatorial e a China sofre os efeitos do impacto econômico imposto pela pandemia. Mesmo assim, no embate que se coloca claramente entre Oriente e Ocidente, os Estados Unidos de Joe Biden — um presidente impopular e com pouco apoio no Congresso — terão um grande desafio pela frente.
Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813