O chanceler Mauro Vieira abriu com um discurso nesta quarta-feira, 21, a reunião dos ministros das Relações Exteriores dos membros do G20 na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Este é o primeiro evento da inédita presidência brasileira do bloco que reúne as maiores economias do mundo, posto rotativo que ocupa desde dezembro do ano passado.
Vieira falou sobre a agenda da reunião, que tem seu segundo dia na quinta-feira, 22, e tocou em diversos assuntos de estimação do governo Lula (PT), como o combate à fome e à desigualdade. Mas o principal tema do discurso foi a crítica contundente aos organismos internacionais em vigor, especialmente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Planalto já havia indicado que a reforma das instituições da governança global, como ONU, OMC (Organização Mundial do Comércio) e bancos multilaterais, seria uma das discussões prioritárias do encontro dos chanceleres.
+ Veja a íntegra do discurso de Mauro Vieira a chanceleres do G20
“Como todos sabemos, as Nações Unidas foram criadas como uma organização que, por excelência, deve lidar com as questões de paz e segurança. Já o G20 foi concebido como um fórum privilegiado para questões financeiras e de desenvolvimento com legitimidade e ferramentas para lidar com esses desafios. Mas, na nossa visão, o G20 pode e deve desempenhar um papel para redução das tensões internacionais”, disse Vieira.
O diplomata brasileiro afirmou que o mundo atingiu um número recorde de conflitos em andamento – mais de 170, segundo ele –, enquanto tensões geopolíticas estão aumentando. “As instituições multilaterais, contudo, não estão devidamente equipadas [para lidar com isso]. É inaceitável a paralisia do Conselho de Segurança diante dos conflitos em curso”, disparou.
+ Vieira faz maratona de bilaterais antes de reunião do G20
“O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar”, enfatizou Vieira, garantindo que o país está pronto para contribuir com “ideias e propostas concretas” para enfrentar os desafios apresentados pelos conflitos atuais, especialmente Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas.
Durante seu discurso de abertura, Vieira ressaltou os três tópicos centrais que Brasília pretende seguir nos encontros desta semana:
- Inclusão social e combate à fome e à pobreza;
- Promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus 3 pilares: social, econômico e ambiental;
- Reforma das instituições da governança global”.
O encontro também promete ser quente por outros motivos. Entre os chefes da diplomacia do grupo, estarão presentes o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Eles vão ficar cara a cara em um momento em que as relações entre Washington e Moscou estão bastante tensionadas. Além da guerra na Ucrânia, na qual os americanos tomaram partido do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, as tensões se elevaram na semana passada por conta da morte do líder opositor russo Alexei Navalny.
+ Brasil recebe chanceleres para reunião do G20 em meio à crise com Israel
Além disso, a reunião dos chanceleres ocorre em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.
O G20
Além do Brasil, compõem o G20 a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.
O encontro no Rio também contará com a presença de enviados de países convidados: Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal, Singapura, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Mais de 10 entidades também receberam convite, como as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).