Não demorou para o vídeo em que torcedores brasileiros da Copa do Mundo humilham uma mulher provocar indignação na Rússia. Meios de comunicação locais reportaram a primeira gravação e sua viralização na internet e atribuíram o comportamento de seus autores à “ignorância” e o classificaram de “expressão de misoginia” e “abuso sexual”.
A mídia russa destacou ainda os expressivos números de estupro e assédio sexual contra mulheres no Brasil e como o vídeo causou repulsa igualmente entre os brasileiros. “Os fãs de futebol do Brasil vieram para a Rússia e levantaram uma onda de indignação entre os cidadãos”, descreveu o site de notícias Medialeaks, ao comentar o vídeo em que os torcedores gritam uma expressão chula (“b… rosa”, em alusão ao órgão sexual feminino) em torno de uma estrangeira que não entende o significado do que está sendo dito – e é levada a repetir a expressão.
“O vídeo pode parecer neutro para as pessoas que não se dedicam às sutilezas da língua portuguesa, mas é uma expressão obscena, usada em uma canção brasileira indecente, que, traduzida para o russo, se refere ao órgão sexual feminino”, completou o Medialeaks.
O site também ressaltou o fato de, no Brasil, o episódio ter provocado reação de usuários das redes sociais e de movimentos de luta pelos direitos das mulheres. “Funcionários, celebridades e jornalistas brasileiros condenaram o ato daqueles homens como uma manifestação do machismo e de superioridade masculina e acharam inaceitável o comportamento daqueles torcedores.”
O jornal moscovita MK reagiu dizendo que “a ignorância pode gerar piadas cruéis”. O diário igualmente destacou a onda de protestos que o vídeo provocou no Brasil e, em especial, a sua caracterização no país como “o clássico assédio”. “Lembre-se que esta definição não se refere apenas ao assédio sexual, mas também às piadas misóginas e a outras manifestações de opressão às mulheres”, ressaltou.
A reportagem do MK mostra surpresa especial pelo fato de um dos torcedores identificados, Eduardo Nunes, ser tenente da Polícia Militar de Santa Catarina (SC). O jornal sublinhou declarações oficiais da corporação de que medidas disciplinares serão adotadas contra ele. Também registrou o comentário indignado do suposto responsável por divulgar o vídeo na internet sobre o fato de mais de cinco mulheres serem estupradas no Brasil a cada hora.
“A violência contra as mulheres é tão enraizada no povo brasileiro. Não é engraçado. Tais coisas fortalecem os estereótipos que são a base do machismo e, por sua vez, a causa das mortes e estupros que vemos todos os dias. Seria legal se os rostos desses vídeos fossem expostos e punidos, até mesmo a impunidade encoraja esse comportamento vergonhoso”, escreveu.
A rede russa 360TV resumiu o episódio ao dizer que “na Rússia, o que aconteceu é chamado de assédio”. “A questão toda é que, no Brasil, o problema da violência contra as mulheres é extremamente agudo”, destacou, ao comentar a reação dentro do próprio país contra o comportamento de seus torcedores.
Outros vídeos
Desde a divulgação desse vídeo, outros dois exemplares passaram a circular na internet trazendo o mesmo comportamento de brasileiros. Em um deles, Felipe Wilson e outros torcedores pedem a três garotas russas para repetirem a frase “eu quero dar a b… para vocês”. A companhia aérea Latam, empregadora de Wilson, anunciou nesta quarta a demissão do funcionário.
Um terceiro vídeo que repercutiu na internet mostra um torcedor brasileiro, ainda não identificado, insistindo para dois meninos russos repetirem frases de baixo calão na primeira pessoa.