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Venezuela sofre perdas milionárias com pior apagão de sua história

Prejuízo já chega a 875 milhões de dólares segundo consultoria; venezuelanos estão sem água, remédios, moeda corrente e transporte

Por Da Redação
Atualizado em 14 mar 2019, 10h36 - Publicado em 14 mar 2019, 09h56
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  • As perdas causadas pelo apagão na Venezuela já chegam a 875 milhões de dólares, de acordo com a consultoria venezuelana Ecoanálitica. Mesmo após o governo anunciar o retorno do fornecimento de energia elétrica, os cidadãos ainda sofrem com a falta de água e comida após o pior blecaute da história do país.

    Segundo Asdrúbal Oliveros, diretor dessa empresa de consultoria econômica, a indústria venezuelana está paralisada e “para se recuperar o país terá que buscar o apoio de multilaterais e do setor petroleiro”.

    “Há uma paralisação importante em muitas áreas críticas do setor petroleiro. Nesse ponto poderíamos perder 700.000 barris diários”, acrescentou o executivo.

    Com a empresa de petróleo PDVSA — responsável por da 95% arrecadação do país — operando no vermelho e minada pela corrupção, a já reduzida produção de petróleo havia caído de 3,2 milhões de barris em 2008 para um milhão antes do início do apagão.

    A situação de emergência, que atingiu Caracas e 22 dos 23 estados deste país de 30 milhões de habitantes, começou na tarde da quinta-feira passada, dia 7. Apenas nesta quarta-feira 13 o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, assegurou que o serviço foi restabelecido praticamente em toda a Venezuela.

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    Ainda assim, há áreas que continuam às escuras seis dias depois do apagão. O governo atribuiu o problema a “pequenas falhas” em regiões onde houve “sabotagens” em subestações depois do corte elétrico.

    O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, acusou os Estados Unidos de realizarem “ataques cibernéticos” e “eletromagnéticos” contra a hidroelétrica El Guri, que abastece 80% da população do país.

    O líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino, sustenta que o colapso se deve à “negligência” e “corrupção” que alcançou 1,5 bilhão de dólares até 2016. “O desespero e a escuridão são provocados pela ditadura”, disse.

    Segundo especialistas, o problema começou após um incêndio numa linha de transmissão relacionado à falta de manutenção dos equipamentos, o que sobrecarregou turbinas da hidroelétrica e as fez parar de funcionar.

    “Sem água, sem luz, sem remédios, sem moeda corrente e transporte. Isto tem sido um pesadelo”, declarou Victoria Milano, de 40 anos, que já tem luz em casa, mas teme voltar a ficar às escuras.

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    Num país que sofre há anos com a escassez de alimentos, a crise de energia gera perdas de 5,5 milhões de dólares para os produtores de carne e laticínios, de acordo com a Federação Nacional de Pecuaristas (Fedenaga, sigla em espanhol).

    Desespero por água

    O problema maior agora é a água. Longas filas se formavam em torno de caminhões-pipa cedidos pelo governo e prefeituras para abastecer a população, inclusive em Caracas, onde o funcionamento das bombas de distribuição de água ainda não está normalizado e havia racionamento.

    A ministra da Água, Evelyen Vásquez, garantiu que é “complexo” estabelecer em quanto tempo o serviço de distribuição de água voltará ao normal. “Começamos a bobear e vamos avançando progressivamente. Estamos enfrentando uma situação de ataque”, garantiu.

    Os hospitais têm enfrentado situações dramáticas. “Como é possível que a maternidade não tenha um gerador? Estamos usando lampiões de querosene”, disse Milano sobre as condições do hospital onde trabalha, em Caracas.

    Segundo Guaidó, 20 doentes renais morreram por falta de hemodiálise. Já a ONG Codevida denuncia que foram 15 mortos, enquanto as autoridades negam qualquer falecimento.

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    O país segue em ritmo lento. O governo estendeu até esta quarta 13 a suspensão das aulas e da jornada de trabalho, mas normalizou a situação para esta quinta-feira, 14.

    Muitos estabelecimentos comerciais e os bancos ficaram fechados durante todo o período do blecaute, enquanto o transporte público, já precário, estava muito escasso.

    “Desde sábado só fizemos uma refeição por dia. À noite, um mingau de aveia e só. Hoje não temos nada”, disse Elena Espinoza, de 38 anos, residente em Maracaibo.

    Nesta cidade, capital do estado de Zulia (noroeste), foram registrados saques em mais de 500 lojas, estimou a Câmara Nacional de Comércio e Serviços (Consecomercio).

    “Das padarias roubaram tudo. De sacos de farinha a até formas para fazer os pães”, contou Espinoza.

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    Um diretor da Consecomercio, Felipe Capazzolo, advertiu que a “destruição de estabelecimentos comerciais diminui a possibilidade de abastecer com alimentos e remédios a população” em um país já castigado pela escassez.

    O apagão provocou longas filas nos postos de gasolina, devido ao temor de escassez de combustível. Além disso, há problemas nas telecomunicações.

    Velas, rádios e lanternas

    O governo criou uma comissão para encontrar os responsáveis e disse ter “provas de que a sabotagem foi ordenada pelo Pentágono e o Comando Sul, e lançado a partir de Houston e Chicago”.

    Guaidó decretou o estado de “emergência nacional” por 30 dias, para pedir ajuda internacional para superar a crise. A Espanha, um dos principais países a dar apoio à oposição venezuelana, ofereceu ajuda para recuperar um sistema elétrico “muito deteriorado”.

    “Maduro é o responsável pela tragédia”, acusou o Guaidó, que em 23 de janeiro se autoproclamou presidente interino após o Congressodeclarar que a reeleição de Maduro para a presidência foi “fraudulenta”.

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    A China, aliada de Maduro, também ofereceu ajuda para restabelecer a eletricidade na Venezuela.

    “A China espera que a Venezuela possa encontrar rapidamente as causas deste acidente (…) e quer oferecer sua assistência”, afirmou o porta-voz da chancelaria chinesa, Lu Kang.

    A oferta chinesa foi anunciada logo após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarar que pediria ajuda também à Rússia e ao Irã para investigar o “ataque” ao sistema elétrico lançado pelos Estados Unidos.

    (Com AFP)

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