O autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, e outros líderes da oposição venezuelana teriam planejado desde outubro com uma pequena empresa de segurança americana uma operação de 213 milhões de dólares para invadir o país sul-americano e derrubar o ditador, Nicolás Maduro, segundo documentos publicados pelo Washington Post nesta quinta-feira, 7. Maduro tem alegado desde o início da semana que a Venezuela sofreu uma tentativa de invasão de “mercenários terroristas” no domingo 3.
O principal documento é um plano de 42 páginas cujo objetivo principal era a realização de “uma operação para capturar/ deter/ remover Nicolás Maduro. . . remover o regime atual e instalar o reconhecido presidente venezuelano, Juan Guaidó”.
O plano tinha como base um “acordo de serviços gerais de 16 de outubro de 2019 entre a República Bolivariana da Venezuela [sob] Juan Gerardo Guiado (sic), presidente interino, e a Silvercorps, [no estado americano da] Flórida”.
As assinaturas de Guaidó e de dois de seus aliados, o deputado Sergio Vergara e o consultor político Juan José Rendon, constam no “acordo de serviços gerais”, um contrato de apenas sete páginas.
Rendon disse à emissora de televisão americana CNN que assinou um “acordo exploratório” com a Silvercorps, mas que nunca foi concluído. Ele disse que a missão “suicida” do domingo foi liderada pela Silvercorp sem o apoio de Guaido. Nem o autoproclamado presidente venezuelano nem Vergara se pronunciaram sobre a reportagem do Post até o momento. A VEJA, Guaidó afirmou não ter envolvimento nessa operação antes de o documento vir à luz. Questionado sobre o contrato, sua assessoria não respondeu.
Os dois principais partidos da oposição venezuelana, Primeira Justiça e Vontade Popular, disseram em um comunicado que “as forças democráticas não promovem ou financiam guerrilheiros, surtos de violência ou grupos paramilitares”, reiterando os apelos por um governo de transição.
O contrato, segundo o Post, foi fornecido ao jornal pelo diretor-executivo da Silvercorp, Jordan Goudreau, cuja assinatura também consta no documento.
Goudreau ainda publicara no final de semana um vídeo em suas redes sociais em que assumia ter ajudado a organizar uma tentativa de golpe na Venezuela e lamentou não ter conseguido participar da ação.
‘Mercenários terroristas’
Segundo a versão da ditadura venezuelana, defendida por Maduro desde segunda-feira 4, um grupo de até 55 ‘mercenários terroristas’ tentou invadir a Venezuela no domingo, pilotando lanchas vindas da vizinha Colômbia. Treze pessoas foram detidas, dentre elas estariam dois cidadãos americanos, Luke Denman e Airan Berry.
O ditador apresentou durante um pronunciamento no Palácio de Miraflores, residência do chefe de Estado, os supostos passaportes de Denman e Berry, dentre outros documentos.
A televisão estatal da Venezuela exibiu nesta quinta um vídeo em que Berry, capturado, diz que os objetivos da missão eram controlar alvos específicos, como o Serviço de Inteligência Bolivariana (Sebin), e “pegar” o ditador venezuelano.
O ditador também reconheceu publicamente que Goudreau participou do treinamento dos ‘mercenários’. Denman, Berry e Goudreau são ex-militares das Forças de Operações Especiais dos Estados Unidos.
O governo dos Estados Unidos ainda não reconhece se realmente há americanos detidos na Venezuela. “Nós vamos começar o processo para, se de fato houver americanos [detidos na Venezuela], descobrir uma maneira de solucionar com a situação”, disse o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na quarta-feira 6.
“Queremos trazer todos americanos de volta. Se o regime de Maduro decidir segurá-los, usaremos todas as ferramentas disponíveis para tentar recuperá-los”, acrescentou.
(Com Reuters e AFP)