Às 18h locais na Venezuela (19h em Brasília), a eleição presidencial deste domingo, 28, foi encerrada com o início do fechamento dos 15.797 centros de votação. Nas próximas horas, enquanto os resultados das urnas eletrônicas são apurados, aumenta a expectativa para descobrir se o atual líder do país, Nicolás Maduro, continuará no poder, ou se o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, candidato da oposição, vai confirmar o favoritismo indicado pelas pesquisas de opinião.
Os mais de 21,3 milhões de venezuelanos aptos a votar neste domingo tiveram que escolher entre os rostos que aparecem nas cédulas – o de Maduro é repetido 13 vezes – com o poder de por um fim aos 25 anos de chavismo e dar uma chance às promessas de “liberdade” e mudança da coalizão da oposição, a Plataforma Democrática Unitária. Ainda não se sabe o momento em que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) dará os resultados.
Ao contrário das duas eleições anteriores (2013 e 2018), Maduro enfrenta hoje o maior desafio ao regime chavista desde 1999. Ele e seus aliados procuram manter o controle de todos os ramos do poder durante pelo menos mais seis anos, numa altura em que a sua base parece dividida, reduzida e decepcionada.
Além disso, a oposição foi capaz de mobilizar a população, algo crucial em um país onde o voto é facultativo. Segundo relatório divulgado pela equipe de González, a participação no pleito ultrapassou, pelo menos, os 54,8% (11,7 milhões de eleitores), faltando duas horas para o fechamento das urnas. Apesar do número parcial ainda ser menor que o previsto (80%, segundo sondagem do Instituto Delphos), já supera em 10 pontos percentuais a participação na última corrida presidencial, em 2018.
Filas nas seções eleitorais
Por lei, os centros de votação devem fechar às 18h, mas também devem permanecer abertos se ainda houver eleitores na fila. De acordo com veículos de imprensa em Caracas, como o jornal espanhol El País e o portal de notícias argentino Infobae, ainda há seções eleitorais abertas, o que deve atrasar a contagem de votos.
“Se não houver ninguém na fila, as cabines de votação devem fechar”, disse a líder oposicionista María Corina Machado, no X, antigo Twitter, às 18h11. “É hora de ver como são contados os seus votos, papelzinho por papelzinho”, acrescentou.
Boca de urna
Longe de oferecer um panorama claro, as pesquisas de boca de urna mostram resultados inversos, a depender das ligações que os seus respectivos institutos, ou autores, têm com o governo ou com a oposição.
A agência Hinterlaces informou que, até às 12h, 61,5% dos eleitores haviam votado e que Maduro vencia por quase 12 pontos percentuais o adversário González – 54,6% contra 42,8%. O instituto Meganalisis, por sua vez, questionou o levantamento do que descreveu como uma “empresa do oficialismo” e garantiu que a Hinterlaces “manipular a realidade”.
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Em seguida, o instituto revelou dados que pintam um cenário totalmente diferente: segundo o Meganalisis, às 11h, 41% dos eleitores haviam votado e González vencia Maduro por mais de 50 pontos percentuais – 65,3% contra 13,1%. Outra pesquisa, da empresa Edison Research, deu 64% dos votos ao candidato da oposição e 31% a Maduro, com base em entrevistas com 5.464 eleitores em 100 centros de votação.
Elvis Amoroso, presidente do Conselho Nacional Eleitoral, órgão controlado pelo chavismo, atacou essas sondagens. “Nenhuma pesquisa de boca de urna é verdadeira, elas dizem o que a pessoa que paga por elas quer ouvir”, disparou.
Antes do início do pleito, a grande maioria das pesquisas dava vantagem ampla ao candidato da oposição sobre Maduro. Pesquisa divulgada pelo Instituto Delphos, na última terça-feira 23, indicou que a coalizão de onze partidos que desafia o regime está 35 pontos à frente, com 60% das intenções de votos. A participação, enquanto isso, deve bater nos 80%, traduzindo a capacidade dos adversários de Maduro mobilizarem o eleitorado.
Denúncias da oposição
A jornada eleitoral transcorreu com normalidade, embora a minutos do fechamento das urnas a líder oposicionista María Corina Machado tenha denunciado atos irregulares por parte do regime de Maduro, em meio a temores de fraude e manipulação dos resultados eleitorais. De acordo com ela, que foi declarada inelegível pelo Supremo por supostas irregularidades fiscais, nunca comprovadas, e precisou passar o bastão a González para que a coalizão Plataforma Democrática Unitária pudesse concorrer à presidência, as autoridades fiscais da oposição – chamadas no país de “testemunhas de mesa” – tiveram acesso negado às atas de suas respectivas seções eleitorais.
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Por sua vez, Delsa Solórzano, presidente do partido Encuentro Ciudadano, denunciou que o Conselho Nacional Eleitoral não permitiu a entrada em suas instalações de representantes de Edmundo González Urrutia e de Corina. Ela destacou ainda que o órgão eleitoral, controlado pelo chavismo, disse à oposição que assistisse à coletiva de imprensa dos resultados pela televisão.
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“Por não estarmos lá fisicamente, dependemos deles lerem (nossas mensagens) no WhatsApp ou atenderão nossas ligações. Não estar (no Conselho Nacional Eleitoral) em tempo real obriga-nos a procurar intermediários, como um observador internacional ou a comunicação via WhatsApp com as autoridades”, comentou Solórzano em declaração à imprensa.
Solórzano, principal testemunha perante o Conselho Nacional Eleitoral em nome da campanha de González, já havia afirmado em entrevista ao portal de notícias argentino Infobae que a oposição traçou um plano para evitar que o regime manipule, por meio da intimidação, os resultados eleitorais.
A estratégia inclui três pontos principais: auditoria cidadã, com um papel ativo dos eleitores na supervisão da contagem de votos, a permanência da população nas zonas eleitorais durante a contagem, e a proteção aos mesários e testemunhas de mesa (os fiscais eleitorais de cada partido que ficam nos centros de votação).
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Ao votar, Maduro sugeriu que não reconheceria nenhuma contagem paralela organizada pelos cidadãos, e que seguiria apenas o Conselho Nacional Eleitoral, controlado pelo chavismo.
Confiabilidade das eleições na Venezuela
O ponto a favor do sistema venezuelano é que, ao longo dos anos, adquiriu todo tipo de dispositivos para evitar fraudes. Existe uma identificação biométrica dos eleitores, mas o Conselho Nacional Eleitoral não tem acesso aos dados dos cidadãos para garantir que o voto seja secreto.
Após a votação eletrônica, é impresso um certificado em papel que os eleitores verificam e depositam em uma urna, e depois são revisados manualmente. No final do dia, a máquina primeiro imprime a ata, que é um relatório com o resultado – diante das testemunhas eleitorais –, e depois envia os dados por telefone ou satélite para o centro de informática. Também não há risco de uma falha elétrica, pois possuem baterias que garantem sua autonomia.
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Especialistas consideram que o sistema de votação é automatizado e pode ser auditado em todas as suas fases, e isso tornou-se uma garantia para a oposição. Uma espécie de tiro pela culatra do regime, que implementou, a partir de 2004, no governo de Hugo Chávez, um sistema eleitoral forte para que candidatos não ligados ao chavismo não pudessem fraudar o pleito.
A fiabilidade das máquinas, porém, não cancela o fato de que a Conselho Nacional Eleitoral seja cooptado pelo chavismo e possa anunciar um resultado inventado. Nem outros tipos de sabotagem que possam dificultar o acesso aos centros de votação, técnicas já empregadas pelo regime Maduro em outros pleitos.