O planeta vem batendo sucessivos recordes de calor. A resposta dos governantes tem estado à altura do problema? Não. Vejo uma séria desconexão entre os governos e a realidade. Esse é o maior desafio da humanidade hoje e ainda não estamos fazendo o suficiente. Vou cobrar lideranças para direcionar mais dinheiro ao enfrentamento dessa crise, que atinge em cheio a saúde do globo e a das pessoas.
O que esperar da gestão Lula para o meio ambiente? Antes de tudo, comemoro o fim do negacionismo que vigorava na administração brasileira, sobretudo por se tratar de um país que abriga a Amazônia, um dos maiores sumidouros de carbono do mundo. Mas as promessas de Lula precisam se desdobrar em ações. O Brasil tem a oportunidade de ser uma liderança na luta contra as mudanças climáticas. Agora, apenas gestos, como hospedar a COP30, não serão suficientes.
Como outros focos de negacionismo em relação ao clima atrapalham seu trabalho? A crise climática não obedece à lógica das fronteiras, então o esforço deve ser global. Não me canso de bater nessa tecla, mas evito entrar em debates polarizados e pouco produtivos.
Seu pai, John Kerry, atua na mesma raia, como enviado especial do clima do presidente americano Joe Biden. Ele a influencia? Certamente. Só que sou médica, então enxergo uma ligação fundamental entre saúde e clima, que ele não vê. Para mim, a mudança climática é uma crise sanitária, tanto que estamos vendo anomalias como dengue, uma doença tropical, na Europa, local de clima temperado. Tem sido divertido inverter os papéis e ensinar meu pai.
Os Estados Unidos estão fazendo um bom trabalho na área do clima? Há um profundo compromisso com a preservação da Terra, mas nós e todos os outros precisamos fazer mais. Isso trará benefícios ao mundo e elevará o bem-estar da população.
Como especialista e mãe de dois filhos, se preocupa com as futuras gerações? Isso me deixa insone, sem exagero. Nossos filhos estão herdando um planeta ameaçado. Por outro lado, observo que os jovens estão bem mais mobilizados em relação ao clima e têm tudo para viver diferente e virar a triste página do aquecimento. Eles são a esperança.
Publicado em VEJA de 26 de julho de 2023, edição nº 2851