Começou nesta segunda-feira, 2, o julgamento de um homem francês que teria, de forma sistemática, drogado sua esposa para que ela fosse estuprada por estranhos. O suspeito é acusado de mais de 80 pessoas pela internet, e suspeita-se que a mulher tenha sido violentada ao menos 92 vezes de 2011 a 2020.
Outros cinquenta homens com idades entre 26 e 74 anos também estão sendo julgados pelo crime no tribunal de Avignon, no sul da França, e enfrentam penas de até 20 anos de prisão. Eles são acusados de estupro de vulnerável, já que a vítima, segundo seus advogados, estava tão sedada que não tinha consciência do abuso.
Modus operandi da maldade
O ex-funcionário de 71 anos da empresa de energia elétrica francesa EDF, identificado como Dominique P., teria colocado soníferos e medicamentos contra ansiedade nas refeições ou no vinho da esposa na residência do casal em Mazan, na Provença, relatou a polícia local. Ele supostamente usava uma sala de bate-papo online para recrutar homens para abusar sexualmente de sua esposa, e não pedia dinheiro em troca.
A vítima, Gisèle P., de 72 anos, compareceu ao tribunal com seus três filhos e pediu que as audiências fossem públicas, porque um julgamento a portas fechadas “era o que seus agressores queriam”, disse Antoine Camus, um de seus advogados.
“Pela primeira vez, ela terá que viver os estupros que sofreu ao longo de 10 anos”, afirmou o advogado, acrescentando que o julgamento será “uma comprovação horrível” para sua cliente “não tinha nenhuma lembrança” dos abusos que ela descobriu apenas em 2020.
A polícia contabilizou um total de 92 estupros, cometidos por 72 homens, dos quais 51 foram identificados. Camus afirmou que o marido “sempre se declarou culpado” e teria dito: “Eu a coloquei para dormir, a ofereci (aos outros) e filmei tudo”.
Entre os acusados estão um vereador local, um jornalista, um ex-policial, um funcionário público, um guarda prisional, um soldado, um bombeiro e enfermeiros. A maioria abusou da vítima uma vez, mas alguns foram várias vezes ao domicílio.
O julgamento deve correr até dezembro.
Investigações
A polícia começou a investigar Dominique P. quando ele foi preso em setembro de 2020, depois que um segurança o flagrou usando uma câmera para filmar três mulheres em um supermercado por baixo das saias.
Ao acessar o computador do réu, a polícia encontrou um arquivo com o título “abusos”, que continha 20 mil fotos e vídeos de sua esposa sendo estuprada quase 100 vezes. Os investigadores também encontraram conversas em um site chamado coco.fr, onde ele recrutava os abusadores.
Os registros de saúde do marido mostram que ele comprou 450 comprimidos para dormir em apenas um ano. Segundo os investigadores, a mulher, agora divorciada, havia sido drogada “quase até o estado de coma.”
“Uma manhã, ela acordou em pânico com um novo corte de cabelo sem entender como isso era possível. Ela foi ao seu cabeleireiro, que lhe disse que ela tinha ido lá no dia anterior”, disse um de seus advogados, Stéphane Babonneau, acrescentando que sua cliente acreditava que tinha uma doença que nenhum médico conseguia explicar e que seus três filhos e outros parentes suspeitavam que fosse Alzheimer.