Na história dos Estados Unidos, com ecos para todo o mundo, os campi universitários foram sempre termômetro democrático do que anda em corações e mentes — e não haveria de ser diferente em torno da guerra entre Israel e Gaza. Na semana passada, algumas das principais instituições de ensino americanas entraram em ebulição, alimentadas pelos protestos de grupos favoráveis aos palestinos. Dezenas de estudantes foram detidos em Yale e na Universidade de Nova York (NYU). Em Columbia, a reitora chamou a polícia. Aulas e provas presenciais foram canceladas — e tiveram de ser feitas on-line, como nos piores dias da pandemia. O rastilho de pólvora corria com velocidade, alimentado pelo ódio que mimetiza o confronto no Oriente Médio. Não há dúvida: o direito à livre expressão, de ambos os lados, é sagrado, e não há nada que impeça as pessoas de pensarem e defenderem seus direitos. Contudo, são inaceitáveis os episódios de antissemitismo que se espalharam entre os bancos escolares, no ambiente mercurial, e às favas o bom senso. O presidente americano Joe Biden deu o tom equilibrado e necessário para baixar a fervura, avesso ao radicalismo — instado a comentar a gritaria, ele foi direto ao ponto: condenou os “protestos antissemitas” e também aqueles “que não entendem o que está acontecendo com os palestinos”. O escritor Amós Oz (1939-2018) deixou como legado o caminho a ser trilhado pela civilização: “O conflito do século XXI é entre os fanáticos e nós”.
Publicado em VEJA de 26 de abril de 2024, edição nº 2890