Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Um futuro apimentado

Eleito num país atolado em corrupção e violência, López Obrador, presidente de esquerda, ainda terá de enfrentar o furacão do outro lado da fronteira —Trump

Por Carol Zappa e Thaís Navarro
Atualizado em 4 jun 2024, 16h11 - Publicado em 7 dez 2018, 07h00

Enquanto partidos de direita se disseminam por toda parte, no México o sinal é invertido: em uma guinada ideológica histórica no país, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, conhecido pelas iniciais AMLO, levou a Presidência com larga vantagem em relação aos tradicionais Partido Revolucionário Institucional (PRI) e Partido Ação Nacional (PAN), que se revezavam no poder havia quase duas décadas. Ao tomar posse no sábado 1º, Obrador disse que a hoje conflituosa relação com os Estados Unidos será “respeitosa”, reforçou o discurso de combate ao fosso social e tratou de acalmar o mercado, cujo nervosismo se expressou em uma queda da bolsa de 14% desde sua vitória. O que vem pela frente ainda é nebuloso: ao mesmo tempo em que promete baixar o preço dos combustíveis e ampliar programas sociais, Obrador garante que conduzirá o caixa federal com rédeas curtas. Falta dizer como.

O ambiente em que a ascensão de Obrador se tornou possível é de um México atolado em uma dívida pública que só avança e enredado em corrupção e violência, que bateu recorde em 2018. Os cartéis de drogas espalham o terror pelo país na base de sequestros e homicídios. “O mais recente período do PRI no comando foi tão desastroso que a oposição liderada por Obrador conseguiu vencer com a maior votação já registrada por um candidato à Presidência”, diz José Luis Gázquez, doutor em relações internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México. Obrador obteve 53% dos votos nesta que é considerada a quinta eleição democrática mexicana (antes, o PRI reinou absoluto por sete décadas em pleitos de fachada).

Especialistas traçam paralelos entre as trajetórias de Obrador e Lula, a maioria descartável. Em dois pontos, no entanto, eles se aproximam: ambos tentaram se eleger presidente várias vezes (Obrador, duas; Lula, três) e foram amaciando o discurso para se tornar palatáveis a um leque amplo da sociedade. Ex-prefeito da Cidade do México e saído das costelas do PRI, Obrador, de 65 anos, fundou em 2011 o Morena, à época visto como um partido inofensivo. Nestas eleições, porém, o Morena se agigantou, conquistando maioria na Câmara e no Senado e governos estaduais. “Esse cenário traz um risco de centralização do poder, o que não seria bom para o México”, alerta o cientista político Francisco Valdés.

Eleito, Obrador disse que dispensaria metade do salário, e após a posse anunciou a venda de aviões e helicópteros oficiais e reabriu o inquérito sobre o macabro sumiço de 43 jovens em 2014. No plano externo, um de seus grandes desafios será equacionar a conturbada relação com Donald Trump, um gargalo herdado do antecessor Enrique Peña Nieto. Para se ter uma ideia do enrosco, Peña Nieto jamais foi a Washington, fato sem precedentes entre os dois países na história moderna. Trump assumiu prometendo erguer um muro na fronteira com o México (pago pelos mexicanos!) para frear o fluxo de imigrantes — ideia que, aliás, ele até hoje martela insistentemente.

Trump dizia ainda que endureceria o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), que reúne Estados Unidos, México e Canadá. E cumpriu. O Nafta renovado, agora conhecido pela sigla USMCA, foi assinado pelos três países no encontro do G20 em Buenos Aires e favorece de fato os Estados Unidos. Falta o Congresso americano ratificá-lo, o que é dor de cabeça para Obrador — para o combalido México, é melhor qualquer acordo do que nenhum. Também na caravana de imigrantes vinda de países da América Central, estacionada em Tijuana à espera de ingressar nos Estados Unidos, reside um potencial barril de pólvora. “Enquanto Trump vê o assunto como problema de defesa nacional, Obrador o encara como crise humanitária”, diz o cientista político americano Stephen Morris. É esperar para ver os próximos capítulos dessa autêntica novela mexicana.

Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2018, edição nº 2612

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.