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Um aprendiz na Casa Branca, há cem dias

O presidente Donald Trump foi obrigado a recuar em muitos de seus projetos e começa mostrar pragmatismo

Por Nathalia Watkins
29 abr 2017, 22h42

A fixação pelos cem primeiros dias de governo data da presidência do democrata Franklin Roosevelt, que chegou ao poder durante a Grande Depressão, em 1933, e conseguiu aprovar cerca de quinze leis para ajudar os Estados Unidos a saírem da crise. Desde então, os cem primeiros dias são um termômetro na política americana, e não seria diferente com o presidente Donald Trump. Apesar de o republicano ter feito pouco caso do marco, não pode esperar os dez dias finais para lançar a auto-avaliação.  “Nenhuma administração fez mais em seus primeiros 90 dias”, disse  Trump em Wisconsin, na semana passada.  Para um homem afeito a superlativos, nada diferente era esperado.

Em termos numéricos, Trump tem crédito para gabar-se: foram 28 leis assinadas desde que assumiu o cargo – o ex-presidente Barack Obama, faz questão de alardear o republicano, aprovou onze leis no mesmo período. Mas o numero esvazia-se quando considerada a relevância dos textos sancionados.

A maioria das promessas de campanha foi adiada ou deixada de lado – especialmente as que exigiam a colaboração de outros poderes para serem executadas. Foi o que aconteceu com a lei anti-imigração, derrubada pela Justiça, e reforma da saúde, que não obteve apoio do Congresso.

Sem experiência política, Trump alardeava que sua habilidade como negociador seria o grande diferencial para governar o país, mas tropeçou justamente nesse quesito. “Eu acredito que Trump não compreendeu completamente que temos real separação de poderes e, apesar da maioria republicana, o Congresso não aceita ordens. Ele não foi capaz de unir os republicanos como pensou que poderia”, diz o cientista político americano Marc Landy, da Boston College.

As contradições do presidente não param por aí. Trump parece mudar rapidamente de opinião e toma atitudes intempestivas. Apenas nesta última semana, voltou atrás após dar declarações sobre o financiamento do muro na fronteira com o México, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e a expulsão de jovens imigrantes ilegais no país.

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A escassa lista de vitórias políticas nestes cem primeiros dias é encabeçada pela nomeação do juiz federal Neil Gorsuch para a Suprema Corte. Com Gorsuch, Trump garantiu a maioria conservadora no mais alto tribunal do país.

Na política externa, a decisão de bombardear a Síria, que significou um revés em seu discurso, foi apoiada tanto pela base republicana quanto por líderes internacionais. Mas cobrou seu preço: o ataque comprometeu a aproximação com a Rússia e colocou o presidente Vladimir Putin de volta ao rol de adversários políticos dos Estados Unidos.

Trump reconsiderou sua postura em outros assuntos internacionais e tornou-se (ao menos por enquanto) mais pragmático em assuntos. Para garantir apoio estratégico, o republicano aliou-se à China e retificou críticas feitas à Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan).

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Trump subestimou os desafios da presidência. Em entrevista à agência Reuters dois dias antes de completar os cem dias de governo, assumiu: “Achei que seria mais fácil”.

Para o cientista político americano Paul Musgrave, da Universidade Massachusetts-Amherst, falta esforço ao republicano. “Passar uma legislação leva muito tempo, mas depois de duas semanas, se falha, já muda para a próxima, desiste. Estamos vendo Trump tuitar coisas que não têm nada a ver e ir para Florida passar o fim de semana. A falta de energia é impressionante”, diz Musgrave.

As recentes declarações do presidente parecem confirmar Musgarve: “Eu sinto falta da minha vida antiga. Eu gosto de trabalhar, mas isso é muito mais trabalho”, disse Trump à Reuters.

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