Com 99% de todas as urnas apuradas no Chile, os números indicam que o ultradireitista José Antonio Kast e o esquerdista Gabriel Boric disputarão a Presidência do país em um segundo turno no dia 19 de dezembro. Esta é a primeira vez desde o retorno à democracia em 1990 que os partidos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita não conseguem chegar ao segundo turno.
José Antonio Kast terminou o primeiro turno com 27,82% dos votos, enquanto Gabriel Boric ficou com 25,91%. Os candidatos têm agendas muito diferentes, o que obrigará os chilenos a escolher em dezembro entre o governo mais de esquerda desde Salvador Allende (1970-1973) ou o mais de direita desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Boric, um deputado de 35 anos e ex-líder estudantil que se descreve como ambientalista, feminista e regionalista, quer expandir o papel do Estado para um modelo de bem-estar semelhante ao da Europa. “Hoje recebemos um mandato e uma responsabilidade tremenda, de liderar uma disputa pela democracia, pela inclusão, pela justiça e pelo respeito à dignidade de todos”, disse o ex-líder estudantil que lidera a Frente Ampla, que surgiu em 2017, na sede da sua coalizão em Santiago.
Especialistas consideram Boric o candidato que melhor encarna a mudança geracional e as exigências que surgiram na crise social de 2019, a mais grave desde o retorno à democracia há mais de 30 anos.
Já Kast, um advogado católico de 55 anos, pretende reduzir o papel do Estado, baixar os impostos, lidar duramente com a migração irregular e proibir o casamento gay e todas as formas de aborto. “Vamos trabalhar para recuperar a ordem, o trabalho e o progresso. Vamos nos libertar da corrupção, do tráfico de drogas e do terrorismo”, disse o candidato em Santiago após a divulgação dos primeiros resultados.
“Hoje, aqueles que queriam que o Estado gerisse tudo e nos tirasse a liberdade começaram a perder”, disse o advogado, de 55 anos, que começou o discurso diante de uma multidão de apoiadores agradecendo a Deus.
O economista liberal Franco Parisi, que vive nos Estados Unidos e nem sequer foi ao Chile para as eleições, foi a grande surpresa do dia, com 12,81% dos votos, de acordo com a última contagem. Parisi deslocou assim o governista e ex-ministro Sebastián Sichel para o quarto lugar e empurrou a candidata da centro-esquerda, a democrata-cristã Yasna Provoste, para a quinta posição.
Diante dos resultados, o presidente Sebastián Piñera pediu “moderação” e a “não polarização” do segundo turno das eleições presidenciais, que será decidido entre a esquerda e a extrema direita no dia 19 de dezembro. “Quero pedir, do fundo da minha alma, que vocês procurem os caminhos da paz, e não da violência. Da unidade, e não da divisão. Da responsabilidade, e não do populismo. Da moderação, e não da polarização”, disse o governante no Palácio de La Moneda.
(Com EFE)