Durante os oito meses em que tropas russas ocuparam a cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, moradores alegam terem sido coagidos por militares a registrarem recém-nascidos como cidadãos russos, sob a ameaça de não receberem fraldas e comidas para os bebês, de acordo com testemunhas ouvidas pela agência de notícias Reuters.
Com a guerra, pais de crianças ucranianas tiveram o poder aquisitivo diminuído radicalmente, afetando a compra de itens básicos infantis. Por isso, muitos cederam à pressão e aceitaram a proposta russa. O certificado de registro deveria ser apresentado no momento de retirada dos produtos.
Além disso, a equipe do Hospital Clínico da Cidade de Kherson, o único disponível na região, teria recebido ordens dos militares para que registrassem todas as crianças com a cidadania russa. Até então, os hospitais ofereciam apenas um registro médico básico, conferindo a responsabilidade do registro ao cartório.
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Leonid Remyga, médico-chefe da instituição, não obedeceu a orientação e seguiu aplicando as leis ucranianas até que foi afastado do trabalho, de acordo com informações da Reuters. Ele teria sido preso e interrogado pelo Serviço de Inteligência Russa (FSB), responsável por estabelecer as normas no território conquistado, sendo liberado um dia depois que a cidade foi retomada pelos ucranianos, em novembro.
Responsáveis que conseguiram burlar as regras aguardaram a reconquista de Kherson para registrar os filhos. Antes da guerra, cerca de 1.200 bebês nasciam no hospital, número que caiu para 489, segundo Remyga. A suspeita é que grávidas partiram para territórios não ocupados pela Rússia ou até mesmo para o exterior. Como militares russos produziam a documentação, não é possível saber quantos recém-nascidos foram afetados com a cidadania errada.
Mesmo com a retomada do território pela Ucrânia, em novembro, Kherson é caracterizada como uma cidade fantasma, já que muitos moradores não retornaram às suas casas devido aos bombardeios no Rio Dnipro.