Um ucraniano que alega ter sido torturado por soldados russos prestou queixa no Tribunal Federal de Buenos Aires, na Argentina, a mais de 13 mil quilômetros do seu país natal. A informação foi divulgada nesta terça-feira, 16, pela agência de notícias Reuters. Ele teria sido eletrocutado e detido ilegalmente por cerca de 20 dias em uma prisão no sul da Ucrânia em 2022, ano de início da invasão russa ao território vizinho.
“Fui detido no trabalho. Depois eles me torturaram. Usaram choques elétricos”, explicou à Reuters. “Foi incrivelmente doloroso, então perdi a consciência. Tive sorte de sobreviver. Muitas pessoas ainda estão lá”.
Cabe à corte argentina decidir se aceitará a queixa. Caso a resposta seja positiva, será a primeira vez em que um caso de crime de guerra cometido pela Rússia será analisado além das fronteiras da Europa e dos Estados Unidos. A deliberação, no entanto, pode se arrastar por meses.
A identidade da suposta vítima não foi revelada por preocupações de que sua família estivesse em locais ocupados pelas tropas de Moscou. A equipa jurídica impediu, ainda, a divulgação de detalhes do processo, como a localização e o momento exato dos acontecimentos, para evitar que o homem seja reconhecido.
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O que diz a queixa
No documento de quase 70 páginas, o homem indica que seu antigo chefe facilitou a sua redenção aos russos e identifica duas outras pessoas por suas insígnias militares. Os nomes também não foram revelados. O texto foi apresentado à Reuters pela equipe jurídica do ucraniano e pela The Reckoning Project, uma organização não governamental, ambas responsáveis pela abertura do caso.
A queixa inclui testemunhos de supostas vítimas dos mesmos agressores. A acusação também é apoiada por relatórios das Nações Unidas sobre casos de tortura na Ucrânia, que acrescenta que mulheres e meninas ucranianas foram estupradas na ocupação russa. A denúncia aponta, além disso, que o homem foi eletrocutado através de fios presos a sua orelha e aos seus dedos. Ele era mantido em celas de 10 metros quadrados com até 20 pessoas.
Após mais de duas semanas de tortura, o ucraniano foi libertado sem acusação e fugiu para zonas não ocupadas pela Rússia, informou a Reuters. O Kremlin nega acusações de tortura na “operação militar especial”, como o governo de Vladimir Putin nomeia a guerra na Ucrânia, e as associa a campanhas tendenciosas do Ocidente.