A Tunísia realizou suas primeiras eleições municipais com mais de um partido neste domingo. A votação era há muito esperada para fortalecer a democracia no único país que sobreviveu à chamada Primavera Árabe. Resultados parciais mostram que partido islamita Ennahdha foi o grande vitorioso. Houve, porém, altas taxas de abstenção.
Sete anos após a revolução, muitos tunisianos se dizem desmotivados diante da inflação alta, do desemprego persistente e dos acordos entre partidos que têm dificultado o debate democrático. No início do ano, a Tunísia foi afetada por um movimento de protesto provocado pela entrada em vigor de um orçamento de austeridade.
Adiada quatro vezes, esta eleição abrangeu 350 municípios e 57.000 candidatos. As eleições municipais anteriores foram realizadas sob o regime de um único partido.
O partido islamita Ennahdha obteve 27,5% dos votos, seguido pelo partido presidencial Nidaa Tounès, com 22,5%. Na capital, Tunes, a candidata Souad Abderrahim do Ennahdha foi a primeira mulher eleita para a Prefeitura, com 33,8% dos votos. Resultados oficias, contudo, só devem ser divulgados em 9 de maio.
A taxa de participação alcançou 33,7%, segundo o órgão encarregada das eleições (Isie), um revés para a classe política. Segundo o órgão, apenas 1.797.154 tunisianos votaram, de um total de 5,3 milhões de eleitores inscritos em um país de 11,4 milhões de habitantes.
“O mais importante para nós é que as eleições municipais foram celebradas. É um momento histórico para a Tunísia”, declarou à agência de notícias AFP Mohamed Tlili Mansri, presidente do Isie. “Faremos melhor na próxima”, disse em relação à abstenção.
O primeiro-ministro da Tunísia, Youssef Chahed, disse ser a alta abstenção “um sinal negativo, uma mensagem forte (…) para os políticos”.
A votação marca o primeiro passo tangível da descentralização prevista pela Constituição, que era uma das reivindicações da revolução lançada nas regiões marginalizadas. Na era do partido único, os municípios administravam apenas uma parte de seu território e tinham pouco poder de decisão, sujeitos à boa vontade de uma administração central que muitas vezes era clientelista.
Desde a queda do ditador Zine Abidine Ben Ali, em 2011, as cidades são administradas por delegações especiais nomeadas pelo governo, que muitas vezes não conseguem atender às demandas dos tunisianos. Mas o país é dotado agora de um Código do Governo Local, votado no final de abril, que pela primeira vez torna entidades independentes, administradas livremente.
Nesse contexto, os eleitores ainda estão lutando para medir a importância desta eleição, já que a incerteza jurídica em torno das novas prerrogativas dos municípios foi levantada apenas durante a campanha, dificultando qualquer esforço para aumentar a conscientização.
Outro sinal de pouco interesse pela eleição, a votação antecipada de policiais e militares no final de abril registrou uma participação de apenas 12%.
Os observadores não excluem uma surpresa nesta eleição, com a participação de muitas listas independentes, o que poderia perturbar os complexos equilíbrios de poder em nível nacional. As municipais serão seguidas pelas eleições legislativas e presidencial em 2019.
(Com AFP)