Em entrevista ao jornal The New York Times, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deslegitimou as investigações federais sobre a suposta interferência russa nas eleições de 2016 e classificou como um “desperdício de tempo” as discussões com a oposição democrata no Congresso sobre a construção do muro na fronteira com o México.
Trump, porém, mostrou que continua firme em seu propósito de levantar o muro – uma de suas principais promessas de campanha. O impasse político em torno do muro está no centro da paralisação do governo federal americano por mais de 30 dias e que pode ser retomada em 15 de fevereiro.
“Eu continuarei a construir o muro, e nós o terminaremos”, disse Trump, sugerindo que pode declarar emergência nacional para cumprir seu plano.
Com os Estados Unidos em emergência, Trump terá poderes extraordinários para driblar os empecilhos da Câmara dos Deputados e acessar os recursos do orçamento necessários para o projeto. Seus críticos dizem que a situação na fronteira não configura emergência real e que forjar uma constituiria abuso de poder. Trump pediu US$ 5,7 bilhões para construir o muro na fronteira sul dos Estados Unidos, medida que os democratas julgam “imoral” e “ineficaz”.
O líder americano ainda criticou ao Times a condução da questão pela presidente do Congresso, a democrata Nancy Pelosi. Ele afirma que “sempre se entendeu” com Pelosi, mas que agora “não acha mais que isso seja possível”, acrescentando que “ela está fazendo um grande desserviço ao país.”
Na quinta-feira 31, a democrata afirmou a jornalistas que não haverá dinheiro para o muro no orçamento para a segurança de fronteira.
Questão russa
Ao abordar o maior escândalo de seu governo – as investigações sobre a influência da Rússia em favor de sua eleição, em 2016 -, Trump alegou ter recebido garantias do Procurador-Geral adjunto, Rod Rosenstein, de que não é mencionado no processo. O presidente afirmou ter sido informado sobre o tema por seus advogados.
Conhecido como Russiagate, o caso tem sido investigado pelo procurador especial Robert Mueller. Procuradores de Nova York apuram as suspeitas de burlas no financiamento da campanha do republicano, em 2016.
Rosenstein não respondeu ao Times se realmente fez as declarações atribuídas a ele por Trump. Até novembro do ano passado, ele supervisionava o trabalho de Mueller, função agora desempenhada pelo procurador-geral Matthew Whitaker.
O presidente também comentou sobre Roger Stone, seu ex-assessor, que é réu em inquérito de Mueller sobre emails roubados de políticos democratas e em outros crimes. Stone teria colaborado com o fundador do Wikileaks, Julian Assange, que em 2016 publicou o conteúdo em seu site, prejudicando a então candidata democrata Hillary Clinton.
Trump insistiu que “nunca nem conversou” sobre o assunto com Stone. Mas, apesar de negar associação ao caso, criticou uma operação do FBI na casa do acusado, que chamou de “uma coisa muito triste para este país.”
Reeleição
Trump afastou boatos de que não concorreria à reeleição, dizendo que “ama” seu trabalho. Mas lamentou ter perdido “quantidades obscenas de dinheiro” durante seu mandato. Ele ainda avaliou as pré-candidaturas do Partido Democrata para a corrida presidencial de 2020.
A senadora da Califórnia Kamala Harris, em sua opinião, “teve o melhor início até agora”. Elizabeth Warren, senadora por Massachusetts foi “gravemente abalada” pelos comentários de Trump sobre sua suposta ascendência indígena. No ano passado, Trump a descreveu como uma “Pocahontas falsificada” e a desafiou a fazer um DNA para comprovar a herança nativo-americana.
A senadora aceitou a provocação e fez o teste de DNA. A conclusão foi que a “grande maioria” dos ancestrais da senadora é europeia, mas os resultados apontaram a presença de um ancestral nativo-americano. “Posso estar errado, mas acho que aquilo era grande parte de sua credibilidade. E, por nada, tudo se perdeu”, afirmou Trump.
(com Reuters)