O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atacou novamente os protestos do movimento Black Lives Matter nesta segunda-feira, 7, afirmando que foram violentos e liderados por democratas da “esquerda radical”. Contudo, as manifestações que ocorreram durante o fim de semana foram pacíficas, assim como 93% das demonstrações ligadas ao grupo antirracista, segundo um estudo publicado na última quinta-feira pela ONG Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED).
O projeto, que pesquisa violência política e protestos em todo o mundo, analisou mais de 7.750 manifestações do Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”) em todos os 50 estados americanos e em Washington D.C. ocorridos após a morte de George Floyd – entre 26 de maio e 22 de agosto. Os dados foram coletados em colaboração com a Universidade Princeton.
O relatório afirma que mais de 2.400 locais registraram protestos pacíficos, enquanto menos de 220 relataram “manifestações violentas”. A violência é definida como “atos que têm como alvo indivíduos, propriedades, empresas, outros grupos ou atores armados”. Inclui desde “luta contra a polícia” até vandalismo, como queima de pneus, ou ataques a estátuas de figuras coloniais e escravistas – 38 manifestações tiveram incidentes do tipo.
Além disso, mesmo em cidades onde os protestos se tornaram violentos, eles estão “em grande parte confinados a quarteirões específicos”, diz o relatório.
Mesmo assim, Trump usa a narrativa de que o Black Lives Matter é um movimento violento. Em pesquisa recente da empresa de inteligência de dados Morning Consult, 42% dos entrevistados disseram que “a maioria dos manifestantes está tentando incitar a violência ou destruir propriedade”.
O relatório sugere que “a cobertura desproporcional de manifestações violentas” pela mídia pode ter contribuído para a percepção. Mas destaca a “resposta violenta do governo”, como o uso “mais frequente” de força pela polícia nos protestos ou uso de força “desproporcional ao intervir em manifestações associadas ao movimento Black Lives Matter, em relação a outros tipos de manifestações”.
Segundo o projeto de pesquisa, os Estados Unidos “correm um risco elevado de violência política e instabilidade nas eleições gerais de 2020”, citando tendências em tiroteios em massa, crimes de ódio violentos e assassinatos cometidos por policiais. Os autores do relatório afirmam que o governo Trump exacerbou as tensões causadas pela desigualdade racial e pela brutalidade policial.
Além disso, o presidente e membros do alto escalão de sua administração frequentemente generalizaram os manifestantes como anarquistas violentos. Nesta segunda-feira, apesar de não ter ocorrido incidentes durante o fim de semana, Trump disse que Nova York e Portland tiveram “noites ruins” de protestos, que foram “fracamente liderados por governadores e prefeitos democratas da esquerda radical”.
Rochester N.Y., Brooklyn N.Y., Portland – All had bad nights, all weakly run by Radical Left Democrat Governors and Mayors! Get the picture?
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) September 7, 2020
A democrata Lovely Warren, prefeita da cidade de Rochester, em Nova York, afirmou nesta segunda-feira que “mais de 1.000 pessoas se reuniram em solidariedade para pedir a mudança necessária para superar racismo institucional”. Segundo ela, os líderes do movimento local do Black Live Matter “ajudaram a garantir a calma ao fazer sua mensagem ser ouvida”. Ninguém foi detido.
“Peço que todos os envolvidos ignorem os comentários do presidente”, disse Warren. “Seu único desejo é atrair as pessoas para que ajam com ódio e incitem a violência, que ele acredita que o beneficiará politicamente”, completou.