Tropas russas desembarcaram no Cazaquistão nesta quinta-feira, 6, como parte uma missão de “manutenção da paz” da aliança militar liderada por Moscou para ajudar o presidente cazaque a retomar controle do país, em meio ao avanço de protestos contra o governo, de acordo com agências de notícias russas.
O pedido foi feito na quarta-feira pelo presidente Kassym-Jomart Tokayev ao presidente russo, Vladimir Putin. Em discurso televisionado, ele recorreu à Organização do Tratado de Segurança Coletiva, aliança que conta com Rússia, Armênia, Belarus, Quirguistão e Tajiquistão.
Durante pedido de ajuda ao bloco, Tokayev afirmou que as manifestações são parte de ações de “terroristas” e que o país tem sido vítima de “ataques” de gangues treinadas no exterior após o aumento no preço de combustíveis provocar os maiores protestos em décadas.
As manifestações públicas de insatisfação contra o aumento do preço dos combustíveis eclodiram durante o fim de semana na cidade de Zhanaozen, na região oeste do país, área de forte exploração de petróleo, e desde então, as demonstrações se espalharam por várias cidades, incluindo a capital, Nursultan. Segundo o Ministério da Saúde, mais de mil pessoas ficaram feridas desde o início dos protestos, e 400 foram levadas para hospitais. Dessas, 62 estão em estado grave.
Ainda não é claro quantos soldados foram enviados pela aliança ou quanto tempo eles irão ficar no país. Segundo o parlamentar russo Leonid Kalashnikov, que supervisiona um comitê de integração entre países da Europa e Ásia, os militares “ficarão pelo tempo que o presidente do Cazaquistão julgar necessário”.
Segundo ele, as tropas terão principalmente a função de proteger “infraestruturas” do país.
Em meio à movimentação russa, a União Europeia afirmou que Moscou deve respeitar a soberania e independência do Cazaquistão. A Comissão Europeia, braço executivo do bloco, também pediu calma de todos os lados.
“A violência deve ser parada. Precisamos nos abster e achar uma solução pacífica para a situação. Agora, obviamente, a UE está pronta e disposta a apoiar um diálogo no país”, disse um porta-voz do bloco.
Novos protestos
A chegada das tropas russas acontece em meio à continuidade de confrontos entre manifestantes e forças da segurança do Cazaquistão. Dezenas de manifestantes morreram após ataques a prédios do governo e ao menos uma dúzia de policiais morreu, incluindo um que foi encontrado decapitado, afirmaram autoridades nesta quinta-feira, 6.
Houve tentativas de invasão a prédios durante a noite na maior cidade do país, Almaty, e “dezenas de agressores foram eliminados”, disse a porta-voz da polícia Saltanat Azirbek, ao canal de notícias estatal Khabar-24. Segundo a porta-voz, cerca de 350 agentes da segurança ficaram feridos.
De acordo com a agência de notícias Interfax-Kazakhstan, mais de cem manifestantes invadiram na quarta-feira a sede da prefeitura de Almaty e chamas e uma densa fumaça podem ser vistas das janelas do segundo andar do edifício, enquanto os manifestantes o cercam e gritam palavras de ordem como “Avante, Cazaquistão”.
Armados com bastões, os manifestantes forçaram os policiais que faziam a segurança do prédio a recuar para ruas próximas e tiraram de vários deles escudos e coletes à prova de balas. Parte da sede do Ministério Público também foi incendiada, assim como 30 veículos que estavam próximos, incluindo viaturas policiais.
Na cidade de Aktobe, no oeste do país euroasiático, manifestantes também conseguiram invadir a sede da prefeitura, que foi sitiada por mais de mil pessoas, segundo a imprensa cazaque.
Já em Kostanai, no norte, dezenas de pessoas se reuniram fora da sede da administração municipal, mas a polícia conseguiu evitar uma invasão. Em Petropavl, também no norte, policiais dispersaram cerca de 50 manifestantes que também foram para a sede da prefeitura local.