Combatentes do Talibã deram tiros para o ar nesta segunda-feira, 30, enquanto olhavam os últimos aviões americanos deixarem o país, completando a retirada de forças dos Estados Unidos do Afeganistão, depois de quase vinte anos.
Com a saída dos americanos, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que o Afeganistão agora tem “total independência”, o que foi celebrado com ainda mais tiros.
De acordo com um correspondente da rede Al Jazeera, o espaço aéreo de Cabul foi “completamente iluminado” por projéteis.
“As celebrações aqui em Cabul estão acontecendo há mais de uma hora – todo o céu em torno da cidade está completamente iluminado por rajadas de tiros”, disse Rob McBride.
O último voo militar americano em Cabul marcou o fim de uma operação massiva na qual milhares de pessoas deixaram o país, temendo a volta do grupo extremista ao poder, depois da tomada da capital no início deste mês.
“Os últimos cinco aviões foram embora, acabou!”, disse Hemad Sherzad, um combatente do Talibã que estava posicionado no aeroporto internacional de Cabul”, à Associated Press. “Não consigo expressar minha felicidade em palavras… Nossos 20 anos de sacrifício funcionaram”.
Em Washington, o general Frank McKenzie, chefe do Comando Central dos Estados Unidos, anunciou o fim da guerra mais longa dos Estados Unidos, dizendo que os últimos aviões deixaram a capital afegã um minuto antes da meia noite, fim do prazo estabelecido para os esforços.
“A retirada desta noite significa o fim do componente militar da evacuação, mas também o fim da missão de quase 20 anos que começou no Afeganistão logo após 11 de setembro de 2001”, disse o general. “É uma missão que levou Osama bin Laden à Justiça junto com muitos de seus co-conspiradores da Al Qaeda. O custo foi 2.461 militares e civis mortos e mais de 20.000 feridos”.
Os Estados Unidos retiraram de Cabul cerca de 79.000 pessoas, incluindo 6.000 cidadãos americanos, desde 14. No entanto, muitos que depositaram suas esperanças na única roda de saída aérea do país não conseguiram embarcar nos voos.
Milhares de outros afegãos tentaram a fronteira terrestre com o Paquistão, mesmo sem garantias de que chegariam ao destino.
Desde 15 de agosto, quando o Talibã tomou controle do Afeganistão, o aeroporto ficou lotado de milhares de pessoas, entre funcionários de governos de outros países, jornalistas e afegãos ameaçados pela volta do regime extremista ao poder.
Além de um ataque que deixou mais de 100 pessoas mortas, incluindo militares americanos, o terminal foi palco de diversas cenas de desespero. Nas redondezas do aeroporto de Cabul, o cenário é de uma espécie de acampamento, com milhares de pessoas continuam se reunindo no perímetro da base. Uma das cenas que mais retratam a angústia dessas famílias foi a de um bebê sendo içado por cima de um arame farpado para que ele pudesse embarcar em um fuzileiro naval dos Estados Unidos na semana passada.