O presidente da Argentina, Javier Milei, reconheceu nesta segunda-feira, 6, que as Ilhas Malvinas estão “nas mãos do Reino Unido” e que pode levar “décadas” até que a soberania seja alcançada, em entrevista à emissora britânica BBC. Embora os países disputem o território, chamado de Falklands pelos britânicos, Milei destacou que não procura um “conflito” com o governo britânico e que o retorno ao mapa argentino deve ocorrer “dentro de um marco de paz e como consequência de um processo de negociação de longo prazo”.
“Obviamente não é uma solução instantânea, mas uma solução que levará tempo. Portanto, não vamos abdicar da nossa soberania e também não vamos ter uma situação de conflito com o Reino Unido”, afirmou. “O que procuramos é uma solução para estabelecer um diálogo para que, em algum momento, as Ilhas Malvinas voltem à Argentina.”
A 400 quilômetros do litoral argentino e a 13.000 quilômetros da costa britânica, o território é alvo de disputa antes mesmo de a Argentina se tornar independente da Espanha. A disputa armada mais recente se deu em 1982, quando o governo militar argentino declarou guerra contra o Reino Unido, à época comandado por Margaret Thatcher.
Em janeiro, na data que marca os 191 anos da “ocupação britânica”, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro reiterou apoio à reivindicação argentina na disputa.
“O Brasil reafirma seu apoio aos legítimos direitos da Argentina na disputa de soberania com o Reino Unido sobre as Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul e os espaços marítimos circundantes. A posição do Brasil remonta a 1833, quando o embaixador brasileiro em Londres foi instruído a coadjuvar o protesto argentino junto ao governo britânico pela ocupação das Ilhas”, diz o comunicado do Itamaraty.
Questionado sobre o Reino Unido não aceitar um debate, Milei disse que tentaria “convencê-los de que este território é argentino e que, de acordo com as especificações que costumam ser utilizadas para defini-lo dessa forma, a Argentina tem direito e soberania sobre as ilhas”. Ele também adiantou que seria “uma negociação de longo prazo e que pode ser estabelecida da mesma forma que aconteceu entre China e Hong Kong”.
“Não vamos abrir mão da nossa soberania, mas se não for o momento de discutir isso hoje, então será discutido em outra ocasião”, acrescentou. “Acho que é uma posição muito mais séria e também temos muitos assuntos na agenda nos quais podemos trabalhar juntos e estamos dispostos a fazê-lo. Acho que é o jeito adulto de lidar com isso e sem dor.”
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Cameron e Thatcher
Além disso, o líder argentino disse que não ficou ofendido com a visita às Ilhas Malvinas, em fevereiro, do ministro das Relações Externas britânico, David Cameron, com quem disse ter “um diálogo de altíssima qualidade”. Milei ponderou que o “ele tem todo o direito de fazer isso” porque “esse território está hoje nas mãos do Reino Unido”, não tendo tomado “isso como uma provocação”.
Em seguida, a repórter da BBC relembra que a ex-primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, de quem Milei nutre grande admiração, ocupava o cargo durante a Guerra das Malvinas, em 1982. O presidente, então, rebate e argumenta que é preciso “diferenciar”.
“Houve uma guerra e perdemos. Isso não significa que não se possa reconhecer que quem estava do outro lado eram pessoas que faziam bem o seu trabalho”, continuou. “E não admiro apenas Margaret Thatcher, admiro também Ronald Reagan nos Estados Unidos. E admiro profundamente Winston Churchill. E qual é o problema?”